Documento acusa Alckmin de criar ‘falsa impressão’ ao tentar atenuar desabastecimento
Consórcio de cidades da região da Cantareira critica falta de planejamento e de investimento em sustentabilidade do fornecimento de água na região metropolitana de São Paulo
Publicado 10/03/2014 - 20h06
São Paulo – O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Consórcio PCJ), formado por 43 municípios e empresas da região abrangida pelo sistema Cantareira, divulgou na tarde de hoje (10) uma nota criticando o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e a Sabesp por darem “a falsa impressão que a região metropolitana de São Paulo (RMSP) está totalmente protegida e que possui um sistema interligado, de vários reservatórios, que garante seu abastecimento (de água) em qualquer situação”.
Para o grupo, essa perspectiva incorreta surgiu da divulgação de que o sistema Cantareira é formado por um grupo de represas, e não por apenas um reservatório. “Tais reservatórios existem, mas são insuficientes para garantir o abastecimento da Grande São Paulo, principalmente em período de estiagem. Existe, sim, a necessidade de a região metropolitana encontrar outras fontes de abastecimento.”
O Consórcio PCJ foi fundado em 1989, como entidade técnica independente, para planejar e fomentar políticas de sustentabilidade no uso da água.
O grupo destacou que, mesmo sendo conhecido que o sistema de represas da Cantareira não tinha condições de manter o abastecimento, foi mantida a retirada normal de águas “durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro de 2014, retirando aproximadamente 31 metros cúbicos por segundo (m³/s), levando os reservatórios a níveis abaixo de 20%, considerados altamente críticos”.
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A RBA já demonstrou em reportagem que a queda contínua no nível da represa é perceptível há pelo menos oito meses. E que também a quantidade de chuvas inferior às médias históricas é perceptível desde agosto do ano passado.
O sistema Cantareira atende cerca de 10 milhões de pessoas nas zonas norte, leste, oeste e centro de São Paulo, além de dez municípios da região metropolitana.
Segundo a entidade, o sistema Cantareira foi, desde sempre, deficitário na oferta de água. E, para completar, a Sabesp não realizou os investimentos necessários, em quase dez anos, para dispor de maior quantidade de água e garantir o fornecimento para a população residente na região.
“Nesses dez anos, concluídos em agosto de 2014, somente para atender um crescimento populacional mínimo de 1% ao ano na RMSP, a Sabesp deveria ter encontrado uma ampliação de disponibilidade hídrica para mais 2,5 milhões de pessoas (equivalente a 13 m³/s a mais, sobre os atuais 31m³/s). Esperava-se que montante próximo tivesse sido gerado para a reclamada redução da dependência do Sistema Cantareira.”
Até o dia 10 de março, a Sabesp enviava 31m³/s para a região metropolitana e mais 5m³/s para a região de Campinas. Este último se amplia para 12m³/s, em períodos de estiagem. Após determinação da Agência Nacional da Água (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), no último dia 6, a companhia passou a enviar 27m³/s e 3m³/s, respectivamente.
Mesmo assim, prossegue a nota do consórcio, para garantir a disponibilidade de água para aqueles que dependem do Cantareira, a Sabesp deveria ter ampliado sua capacidade fornecimento em 25m³/s.
Uma solução para o problema, que data de discussões sobre fornecimento de água ainda nos anos 1960, seria a construção de sete reservatórios na região do Vale do Ribeira, que permitiria uma oferta de água superior a todo o consumo atual da região metropolitana: cerca de 80 m³/s. Segundo o Consórcio PCJ, o custo estimado seria de US$ 6 bilhões. “Tal proposta, concluem os especialistas, somado aos demais reservatórios existentes, teria deixado a RMSP sem problemas de abastecimento de água até 2050”, defende o Consórcio PCJ.