São Paulo

Jornalistas reafirmam liberdades profissionais frente a repressão policial

Entidades começam articulação com Sindicato dos Advogados para evitar agressões a profissionais da imprensa e do direito. Estado é responsável por 91% das agressões contra repórteres em SP

Joca Duarte

Mesmo identificado, fotógrafo é cercado, agredido e preso por policiais em São Paulo, sábado (22)

São Paulo – Em plenária conjunta na manhã de hoje (28), no centro da capital, repórteres, cinegrafistas e fotógrafos que trabalham na cobertura de manifestações populares em São Paulo repudiaram as agressões sofridas por profissionais da imprensa no último sábado (22), durante protesto contra a realização da Copa do Mundo.

Os jornalistas demonstraram ainda irritação com a postura de comandantes da Polícia Militar, que desde junho de 2013 vêm se desculpando pelas ocorrências, mas nunca puniram os responsáveis. E reafirmaram que devem gozar de total liberdade para trabalhar na cobertura dos acontecimentos, sem qualquer tipo de restrição por parte dos policiais.

Além de condenar a violência estatal, os jornalistas elaboraram uma carta que será enviada às autoridades, elucidando três pontos. Primeiro, que os profissionais da imprensa não necessitam de uma “identificação prévia” para exercer suas atividades na rua. A decisão é uma resposta às iniciativas da PM em distribuir coletes específicos para os jornalistas.

Leia também:

Assim, diz o comando, os policiais poderiam fazer a identificação visual da imprensa, diferenciando-a dos manifestantes e evitando as agressões. “Quando fomos procurados pela PM, dissemos que a identificação dos repórteres não deve partir do Estado”, contestou o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), José Augusto Camargo. “Não precisamos solicitar licença da polícia para trabalhar.”

A solução apresentada pela PM caiu em descrédito também por causa dos episódios do último sábado. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), 19 membros da imprensa foram agredidos pela tropa durante o cerco aos manifestantes. Pelo menos sete se identificaram antes de apanhar ou receber voz de prisão. Aloísio Mauricio, da Brazil Photo Press, foi agredido e preso mesmo usando capacete azul com a inscrição “imprensa”.

“Será que a câmera já não é suficiente para que os policiais percebam que estamos trabalhando?”, questiona Esdras Martins, secretário-executivo da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo (Arfoc-SP). “A PM diz que temos que aprender a nos posicionar nos protestos, mas nós devemos ter a liberdade de ir onde quisermos para capturar a imagem que julgamos ser mais adequada. Afinal, estamos na rua.”

A plenária também rechaçou a distinção entre jornalistas profissionais, a serviço de grandes meios de comunicação, e jornalistas independentes, que mantêm páginas na internet ou gravam manifestações com seus telefones celulares. “Reafirmamos a importância da credencial, mas ela não pode ser usada como desculpa para impedir que qualquer cidadão registre os acontecimentos”, reforçou Camargo, do Sindicato dos Jornalistas.

Por fim, sindicato e Arfoc-SP concordaram em que os profissionais da imprensa podem – mas não estão obrigados a – utilizar equipamentos de proteção na cobertura das manifestações. Isso porque, no entendimento da plenária, cabe aos policiais se eximirem de qualquer agressão às pessoas que estão trabalhando no registro das manifestações. A carta será publicada nas próximas horas.

“Não tem mais que existir essa história de crachá. Temos cada vez mais profissionais trabalhando como freelancers. E fotografar não é crime”, pontua Joel Silva, repórter fotográfico da Folha de S. Paulo, com experiência na cobertura de guerras fora do país. “No Oriente Médio, é comum que os exércitos prendam jornalistas para evitar que a gente registre crimes e abusos. Será que é essa a razão pela qual estão nos prendendo aqui também?”

O Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo (Sasp) se fez presente na plenária dos jornalistas e cinegrafistas para lembrar que, assim como membros da imprensa, profissionais do direito também foram hostilizados pela polícia no último sábado. “O advogado é indispensável no cumprimento da justiça”, lembrou Vagner Patini, diretor da entidade. “As afrontas às prerrogativas do advogado são uma afronta à justiça.”

As entidades de classe de jornalistas e advogados protocolaram ainda uma “reunião de emergência” com o procurador-geral de justiça de São Paulo, Márcio Elias Rosa. A ideia é estender ao chefe do Ministério Público estadual o relato dos abusos, e reforçar a ideia de que uma operação policial que viola os direitos de 19 jornalistas e prende 262 arbitrariamente não pode ser considerada um “sucesso”, como classificou a cúpula da Segurança Pública.

Leia também

Últimas notícias