Para Graziano, fome precisa ser combatida com o mesmo vigor que a crise econômica

O diretor-geral da FAO afirma que países da América Latina podem erradicar a fome em 2025

Para José Graziano, combater a fome significa investir em produção e combater pressões inflacionárias (Foto: Renato Araújo/Abr)

São Paulo – O combate à fome não deveria ser um tema tratado lateral à crise econômica mundial, na visão do recém-eleito diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano. Ele defendeu a posição em artigo publicado nesta quarta-feira (3) no jornal Folha de S.Paulo.

O representante da FAO afirma que a coordenação de fluxos da oferta e a demanda por alimentos  com a menor inflação de preços não pode ser “obra do improviso nem de automatismos cegos de mercados desregulados”, por que se trata de alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050.

Segundo ele, políticas de conhecimento técnico que envolvem o mercado, o governo e a sociedade podem resultar em experiências bem-sucedidas para o combate à fome, como foi o caso do Fome Zero, o programa de segurança alimentar implantado no Brasil em 2003.

Graziano afirma que decisões mais desambiciosas do que aquelas acionadas para prestar socorro à crise do sistema financeiro, poderiam ter evitado a emergência alimentar em países como a Etiópia e Somália e em outros países no “Chifre Africano”.

Erradicação da Fome

Nesta quarta-feira (3), em reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), Graziano disse que alguns governantes, em especial os de países onde não há sistemas democráticos, não têm o interesse de acabar com a fome.

“Alguns países se assentam nessa exclusão social para manter o domínio de uma minoria, por isso que digo que acabar com a fome não interessa a todos, por que ela pode modificar governos. Acho que chegar a um sistema democrático também é uma pré-condição para acabar com a fome”, disse, reiterando também que sua gestão à frente da FAO será conduzida de maneira a mudar com a realidade nesses países.

Para Graziano, há muita dificuldade em se reduzir pela metade o número de famintos até 2025, sobretudo nos países mais pobres, poré, Graziano acredita na viabilidade de a América Latina alcançar a erradicação neste período de 14 anos.