Uma nova faceta do líder do grupo Teatro Mágico

Fernando Alitelli, do grupo paulistano Teatro Mágico lança disco solo (Foto: ©Leonardo Wen/Folhapress) Quem está acostumado com a imagem do músico, ator e compositor Fernando Anitelli como líder do projeto […]

Fernando Alitelli, do grupo paulistano Teatro Mágico lança disco solo (Foto: ©Leonardo Wen/Folhapress)

Quem está acostumado com a imagem do músico, ator e compositor Fernando Anitelli como líder do projeto Teatro Mágico, irá se surpreender com a faceta romântica demonstrada no primeiro disco solo, “As Claves da Gaveta”, que reúne suas primeiras composições, apresentadas em saraus e bares, produzidas sem o devido cuidado e colocadas na internet pelo pai dele, Seo Odácio. O que impera é um tom muito mais doce e melódico, deixando de lado a agitação de um projeto que mistura arte circense, poesia e letras de forte teor político.

Fernando Anitelli é acompanhado por grandes músicos, como o pianista Moisés Alves, o violonista Daniel Santiago, o pandeirista William Marques os baixistas Fernando Rosa e André Vasconcelos, os bateristas Miguel Assis e Xande Figueiredo. É o que se percebe logo na primeira e suingada faixa, “Menina do Balaio”, com os belos versos: “Menina do balaio, donde cê pareceu / Trazendo festa em meu berço / Festando em balaio meu / Mandando beijos pra chuva / Chovendo beijos em mim”. Essa junção entre voz suave e percussão eficiente aparece também em “Durma Medo Meu” e em “A Primeira Semana do Mundo”, com toque rural.

O romantismo e a suavidade são a tônica principal desse álbum, o que mostra outra faceta de Fernando Anitelli, muito diferente da agitação e inventividade constante do Teatro Mágico. É o que se percebe em “Cuida de Mim”, que lembra aquelas baladas que costumavam fazer sucesso nas rádios da década de 1980, com certo toque de Zeca Baleiro; e em “Soprano”, em que demonstra não ter razões para esconder certa pieguice: “Chego voando pra te visitar / Talvez por engano eu venha te beijar”.

O momento mais bonito do álbum é “Saudade de Chumbo”, com certo toque de Oswaldo Montenegro: “Bailarina, soldado de chumbo / Nossa casinha pequena parece vazia sem o teu balé / Sem teu carinho guardado soldado de chumbo não fica de pé”. Outra referência importante é o grupo 14 Bis, o que se percebe na graciosa “Perto de Você”: “Quando a paz se anunciar, dentro de nós / É porque aquilo que nos cega, mostra o outro lado da moeda”.

Fernando Anitelli também demonstra grande recurso vocal no dueto com Nô Stopa, na parceria com ela e Danilo Souza, “Na Varanda”: “Joga a trança / Busca o chão e não o céu / Qual barquinho de papel / Sonha ir de encontro ao mar”. No entanto, ao final fica a sensação de que, para quem havia chamado tanta atenção com a diversidade e inventividade do Teatro Mágico, era possível esperar algo muito mais criativo na praia romântica do que aquilo que se encontra em “As Claves da Gaveta”. Desse modo, os versos da última faixa, o empolgante e que no meio apresenta cerca catarse roqueira, “Samba de Ir Embora Só”, são sintomáticos: “O nosso som pausou / E por tanta exposição a disposição cansou / Secou da fonte da paciência / E nossa excelência ficou lá fora /… / Só me resta agora acreditar / Que esse encontro que se deu / Não nos traduziu melhor”.