Última semana para ver ‘O Mentiroso’

Cenografia, adereços e máscaras características são um dos pontos altos do espetáculo (Foto: Divulgação) Está em cartaz, no Teatro Commune, em São Paulo, até o início de março, a ótima […]

Cenografia, adereços e máscaras características são um dos pontos altos do espetáculo (Foto: Divulgação)

Está em cartaz, no Teatro Commune, em São Paulo, até o início de março, a ótima montagem de “O Mentiroso”, peça escrita por Carlo Goldoni, em 1750 e agora traduzida por Augusto Marin e dirigida e adaptada pelo próprio Marin e por Maria Eugênia De Domenico. Logo na entrada é possível observar uma mostra de desenhos e fotografias do incrível trabalho de máscaras, figurinos e cenários típicos da commedia dell’arte, forma de teatro popular improvisado, que começou no século XV, na Itália, e se estendeu até o século XVIII, com apresentações feitas pelas ruas e praças públicas.

Esse aspecto cenográfico é um dos pontos altos do espetáculo, em função dos cenários e figurinos de William Gama – atenção especial para a maneira como é mostrada a varanda de uma casa. Também merece destaque os adereços de Larissa Medeiros e das máscaras de commedia dell’arte e de carnaval, de Helô Cardoso, Eduardo Caiuby e Larissa Medeiros.

O clima desse tipo de espetáculo é mantido a risca na nova montagem de “O Mentiroso”, já começando com os atores cantando, recebendo e saudando o público na entrada. A presença de um grupo de músicos no canto direito do palco também dá um clima todo especial à atuação de um elenco afinadíssimo, que recupera o brilho de seus personagens tão característicos, caso do Arlecchino (o excelente Augusto Pompeo), comunica-se com a plateia e insere menções a fatos mais atuais, simplesmente com o intuito de aproximá-la ainda mais da história que está sendo contada. Esse é o caso da menção a canção de Roberto Carlos.

A história gira em torno de Lélio Bisognosi, que é muito bem interpretado por Augusto Marin. Ao chegar a Veneza, com seu criado Arlecchino, ele se apropria de uma serenata feita à Rosaura e Beatriz, filhas do Doutor Balanzone, assim como de um presente enviado anonimamente para Rosaura, com o intuito de conquistá-las. A partir daí, ele desenvolve uma série de mentiras e intrigas muito divertidas, mas que, logicamente, não dá muito certo e não se mantém até o final.

Ao mesmo tempo, “O Mentiroso” é um marco importante da arte dramática italiana por significar uma ruptura com o que havia sido feito em commedia dell’arte até então. O conceito de ser humano é colocado à prova aqui de modo irrefutável, com uma abertura para a improvisação, a criatividade e, consequentemente, a mentira. Esse aspecto ganha ainda mais força nessa montagem brasileira, graças a um tom satírico e bem-humorado, com ares de histórias em quadrinhos, e que se vale de alguns recursos cenográficos muito interessantes, como o jogo de sombras de Rosaura atrás de uma cortina.

O Coletivo Teatro Commune é um ponto de cultura ligado ao Ministério da Cultura e à Secretaria Estadual de Cultura, que começou a trabalhar com commedia dell’arte a partir da pesquisa de máscaras que já havia resultado na marcante montagem de “O Arlecchino”, de Dario Fo. Essa é a segunda montagem de “O Mentiroso” no Brasil. A primeira havia ocorrido em 1949/1962, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com Sérgio Cardoso no papel de Lélio Bisognosi.

O Mentiroso

Ingressos de R$ 15 a R$ 30
Sessões aos sábados, 21h, domingos e segundas-feiras, às 20h.
Teatro Commune – Rua da Consolação, 1218. Consolação.
Telefone: (11) 3476.0792