Uma das mentes mais criativas da música brasileira nas duas últimas décadas, o paulistano Tatá Aeroplano fez parte das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, e agora lança seu primeiro CD solo e homônimo nessa quinta-feira (9), no Sesc Vila Mariana. O trabalho está disponível para download em www.tataeroplano.com.br e será lançado em CD, LP e compacto em vinil de 7 polegadas.

As letras de Tatá Aeroplano são marcadas pelas crônicas a respeito das noites românticas paulistanas. É o caso da ótima “Pra Que Tapas Que Doeu em Mim”, que começa com vocal que remete ao “Because”, dos Beatles, e depois chega a um dos principais pontos da cidade, a Rua Augusta: “Bem no meio da Augusta / Em frente ao Ecléticos Club / Em meio aos freaks da night / Você quis, acabar / De uma vez por todas, comigo / Pra isso precisou / De algumas doses de absinto”. Termina magistralmente ao som de uma descarga.

O mesmo acontece em “Tudo Parado na City”, uma melancólica discrição do trânsito: “Tudo parado na city / Mais uma marcha no ar / Pessoas baratinadas / Não sabem se vão voltar /… / Pessoas baratinadas / Não sabem se vão chegar / Pro cine / Ela não vai chegar ao cine”. A temática cinematográfica retorna na comovente “Cão Sem Dono”, que encerra o álbum e foi inspirada no filme homônimo de Beto Brant e Renato Ciasca, ícones do cinema paulista, baseado no romance do gaúcho Daniel Galera. “Admito. Sou um perdido sem noção /

Entregue, embriagado / Sou um cão sem dono e sem razão”, canta Tatá.
Leo Cavalcanti participa dos vocais de “Tudo Parado na City” e “Sartriana”, que abre o álbum e remete ao filósofo, escritor e crítico francês Jean-Paul Sartre, e tem boa dose de ironia: “Pobrezinha / Chora em segredo / Dentro do seu quarto / Aparenta / Alegria plena / Falsa de dar dó”. Em seguida, vem a experimental “Perigas Correr”, que retoma a temática da tentativa de fazer a companheira feliz e lembra um pouco o Arnaldo Antunes das fases mais interessantes dos Titãs: “Corro o risco de sofrer / Corro o risco de correr / Corro o risco de correr o risco de amar”.

A cantora Barbara Eugênia aparece na doce “Arruda”, marcada pela sonoridade da Jovem Guarda e composta com o poeta Arruda. Bruno Buarque, do Estúdio Minduca, onde foi gravado o trabalho, toca bateria em sete faixas. Nas restantes, a função coube a Clayton Martin, da banda Cidadão Instigado. Outras participações especiais são do tecladista Mauricio Fleury, das bandas Bixiga 70 e Frame Circus; e do compositor Peri Pane, no coro do rock setentista “Machismo Às Avessas”, que retoma a crônica noturna: “Garotas saem pra caçar no melhor estilo sex and the city / Os garotos se reúnem pra chorar / As pitangas pelas garotas que saem para caçar / É um machismo às avessas / Sou um feminista triste”. Genial!

O compositor francês Serge Gainsbourg parece ser a referência da ótima “Um Tempo Pra Nós Dois”, marcada por um romantismo docemente piegas: “Tenho medo de me deitar com você / Tenho medo de te dizer… Eu te amo / Tenho medo de parecer pentelho / Se eu pedir um beijo, se eu pedir seu peito / Se eu pedir arrego”. O solo de baixo de Dustan Gallas é arrepiante. O mesmo clima aparece em “Te Desejo Mas Te Refuto”.

A produção do álbum foi realizada por Junior Boca e Dustan Gallas, que tocaram, respectivamente, guitarra, e baixo, mellotron e teclados. No encarte, há o aviso de que as canções foram arranjadas coletivamente em dezembro de 2011. As fotos de Maira Acayaba e o design de Günter Sarfert também chamam atenção ao mostrar Tatá Aeroplano elegantemente na estrada durante o pôr do sol e diante de cactos.

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