Ruy Castro e Heloisa Seixas relatam viagens culturais pelos cantos do mundo

Todo fã dos Beatles que se preze sonha em conhecer os lugares freqüentados pelos integrantes da banda na cidade industrial Liverpool, na Inglaterra. Os adoradores de Elvis Presley não dispensam […]

Todo fã dos Beatles que se preze sonha em conhecer os lugares freqüentados pelos integrantes da banda na cidade industrial Liverpool, na Inglaterra. Os adoradores de Elvis Presley não dispensam uma visitinha a Memphis, nos Estados Unidos. E confesso que nem eu mesmo resisti a visitar o túmulo de Oscar Wilde no cemitério Père-Lachaise, em Paris, na França, e a visitar a casa onde o meu escritor favorito nasceu em Dublin, na Irlanda. São esses roteiros, que misturam turismo e cultura, que o casal de escritores Ruy Castro e Heloísa Seixas relata no livro “Terramarear – Peripécias de dois turistas culturais”.

“Fazer expedições literárias ou cinematográficas pode ser a melhor maneira de explorar uma cidade sem ter de disputar espaço a cotoveladas com 515 turistas por metro quadrado. Por algum motivo, eles não se interessam por esses lugares que no passado remoto ou recente, atraíram tanta gente criativa e/ou louca. É verdade que, por não querer se misturar a eles, você correrá o risco de ser chamado de esnobe e de metido a sebo”, avalia Ruy Castro, num texto a respeito de Veneza, escrito em 2000.

“Terramarear” é uma coletânea de textos publicados originalmente por revistas hoje extintas e jornais de grande circulação, como “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo”. Há também vários outros inéditos e/ou escritos especialmente para essa obra. O fato é que, de Moscou a Fernando de Noronha, passando por Berlim, Madri, Porto, Roma e Nova York, Ruy Castro e Heloísa Seixas parecem aproveitar cada viagem ao máximo e também as incursões históricas e culturais que realizam na própria cidade onde vivem, o Rio de Janeiro.

Pelo menos dois textos merecem destaque. No inédito “Por que a verdadeira Via Veneto não é a de Fellini?”, Ruy Castro conta a pitoresca maneira com que o cineasta Roberto Rosselini contou aos jornalistas o encontro com a atriz Ingrid Bergman no Hotel Excelsior, e depois menciona os cenários daquela região de Roma presentes nos filmes “A Doce Vida”, de Federico Fellini, e “A Princesa e o Plebeu”, estrelado por Audrey Hepburn.

Em “Quarenta anos depois, alguém perguntou por ele no hotel”, Heloísa Seixas relembra a ida dela e do marido a um hotel em Portofino, na Riviera Italiana, onde vivera o poeta e crítico literário norte-americano Ezra Pound, e que, ao questionar a proprietária a respeito desse fato, emocionaram-na. Afinal, há mais de quarenta anos que alguém a questionava a respeito do escritor. Prova de que é preciso muita vontade e faro de pesquisador apaixonado para aproveitar ao máximo as viagens. Ah, essas andanças renderam até mesmo um cartão postal enviado pelo cantor e pianista norte-americano Bobby Short, fato relatado em outro texto imperdível.

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