Ronaldo Correia de Brito e a paixão pelos livros

O cearense Ronaldo Correia de Brito tem a formação de muitos escritores importantes da literatura brasileira – é médico formado pela Universidade Federal do Pernambuco – e é considerado um […]

O cearense Ronaldo Correia de Brito tem a formação de muitos escritores importantes da literatura brasileira – é médico formado pela Universidade Federal do Pernambuco – e é considerado um dos melhores e mais produtivos cronistas da atualidade. Em seus textos transparece principalmente uma inquebrável paixão pelos livros, típica de quem os coleciona, mas também os saboreia. É o que se percebe na última coletânea “Crônicas Para Ler na Escola”.

Considerando-se um “compulsivo que não resiste aos apelos do consumo” (em “Solstício”), o cronista cearense não é um leitor qualquer, como demonstra em “Meu Livro de Cabeceira”: “não gosto de livros no quarto, nem tenho o hábito de ler à noite. Sempre vi os livros como entidades vivas, pulsantes, cheias de peripécias. Temo que os personagens saiam das páginas, movimentem-se fora das frases em que foram inventados e perturbem meu sono. Não quero livros nem na porta do meu quarto. Já bastam as impressões que os seus autores deixam em mim, nem sempre agradáveis”.

O cronista dialoga ainda com o escritor peruano Mario Vargas Llosa, em “Vou morar na Europa e ser famoso”; manifesta a incompreensão diante das pessoas que visitam a casa onde morou Franz Kafka, em Praga, em “O artista e seu legado”; e a paixão por Machado de Assis, em “Machado, Machado, Machado…”

Já a respeito dos novos cronistas brasileiros, ou seja, seus pares, ele é taxativo e brilhante, em “A escrita e os modismos”: “Os cronistas da nova geração abominam a narrativa tradicional, aquela que tem começo, meio e fim. Eles desprezam contar uma história. Há um gosto pelo conto sem enredo e pelas narrativas curtas.

Alguns contos são tão pequenos que parecem um haicai, uma forma de poesia japonesa, composta de apenas três versos. Muitas vezes esses minicontos lembram um recorte de uma notícia de jornal ou revista, feito ao acaso. Quantas histórias da tradição oral estariam perdidas, se nossos antepassados, homens comuns, tivessem esse mesmo desprezo pelas narrativas clássicas”.

Ronaldo Correia de Brito também não se poupa a criticar a cerimônia de casamento, que para ele se transformou num pretexto para as pessoas se exibirem; e a manifestar a preferência por Galileu Galilei a Giordano Bruno, uma vez que o primeiro, diferente do segundo, renuncia às glórias de seu tempo para ter um pouco mais de vida e continuar a sua obra.

Porém, um os textos mais emocionantes são “O consolo que vem dos livros”, onde narra o caminhão biblioteca que se desloca pelos bairros mais pobres da periferia de Fortaleza; e “O ano de 1964 pelas lentes de Fellini”, em que compara o alterego ainda criança do cineasta com ele também garotinho, em Crato, no Ceará.

[email protected]