Saúde mental

Christian Dunker: Neoliberalismo e depressão à brasileira

Segundo psicanalista Christian Dunker, discursos neoliberais de meritocracia — em que sucesso e fracasso tendem a ser individualizados — e crise dos últimos anos em que os horizontes prometidos deixaram de ser cumpridos ajudam a agravar o quadro geral do transtorno no Brasil

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No livro, Dunker narra como a depressão, que por muitas décadas ocupou uma posição menor entre os transtornos mentais, se tornou, a partir dos anos 1970, a grande protagonista dos discursos sobre o sofrimento psíquico

São Paulo – A depressão é um problema sério no Brasil. De acordo com dados da OMS, a Organização Mundial da Saúde, a doença afeta 5,8% da população, um índice maior do que a média mundial de 4,4% e a maior da América Latina. Para falar sobre esse tema, o programa O Planeta Azul conversou com o psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP Christian Dunker, que acabou de lançar o livro Uma Biografia da Depressão, pela Editora Planeta.

No livro, Dunker narra como a depressão, que por muitas décadas ocupou uma posição menor entre os transtornos mentais, se tornou, a partir dos anos 1970, a grande protagonista dos discursos sobre o sofrimento psíquico.
De olho nesse fenômeno, o professor da USP resolveu esmiuçar as origens, a história e o contexto atual da depressão. Ele encontrou diversas explicações contemporâneas para o agravamento do transtorno: dos discursos neoliberais de meritocracia — em que sucesso e fracasso tendem a ser individualizados — à crise dos últimos anos em que os horizontes prometidos deixaram de ser cumpridos. Deparou-se também com questões como a ascensão do neopentecostalismo, com igrejas vendendo a ideia de prosperidade.


Confira a íntegra do programa


Ao longo do livro, Christian Dunker refaz os passos genealógicos do transtorno a partir dos conceitos da tristeza e da melancolia para mostrar que a depressão é “um nome demasiado pequeno para tantas formas, que reúne coisas que não andam juntas”. O autor faz uma viagem no tempo para mostrar que o surgimento da depressão é contemporâneo ao romantismo nas artes e que sua estabilização como quadro clínico acompanha o modernismo nas artes visuais.

Dunker concorda que as redes sociais contribuem para, ao expor imagens e histórias perfeitas, agravar a depressão. Mas reconhece também o seu papel positivo. “Não devemos demonizar as redes sociais. Porque elas estão fornecendo práticas de reconexão de contato e de narrativização de sofrimento, isso tudo está disponível”, diz ele.