Para defensores dos mares, Rio+20 é ‘fracasso épico’

Rio de Janeiro – A decepção com o documento final da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável veio à altura da expectativa. Após a aprovação do texto pelos […]

Rio de Janeiro – A decepção com o documento final da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável veio à altura da expectativa. Após a aprovação do texto pelos países-membros da ONU, hoje (19), no Rio de Janeiro, entidades que trabalham pela preservação dos oceanos concederam uma entrevista coletiva para expressar desagrado com o teor do texto da Rio+20.

“Hoje nos distanciamos ainda mais do caminho que queremos. A Rio+20 se transformou em um fracasso épico. O que queremos para o mundo são três dias de uma maquiagem verde?”, indagou o coordenador internacional da campanha de oceanos do Greenpeace, Milko Schwartzman. Ele lembrou que os mares são o ecossistema menos protegido do mundo. O problema é que os altos mares são, no geral, áreas internacionais sobre as quais não pesa qualquer acordo, o que facilita a exploração desregrada, colocando em risco a existência de algumas espécies. “O Rio desperdiçou a oportunidade de começar a negociação para um novo acordo sobre o mar nas Nações.”

O fracasso foi atribuído a Estados Unidos, Japão, Rússia e Canadá, países que têm na pesca uma atividade econômica e social importante, e à Venezuela, que ainda não assinou um relatório da ONU sobre o mar e relutava em levar adiante qualquer novo entendimento sem que aderisse ao primeiro. “Foi muito estranho ver EUA e Venezuela trabalhando tão próximos para derrotar o que outros países acordaram. O presidente da Venezuela teve uma conversão repentina ao capitalismo”, ironizou Matthew Gianni, consultor de políticas da Coalizão pela Conservação do Alto Mar. “O que conseguimos foi um acordo para levar isso de volta a grupos de trabalho por mais três anos.”

Como na maioria dos demais assuntos, o capítulo sobre oceanos do documento apresentado pelos negociadores brasileiros levanta intenções futuras e reconhece a necessidade de avanços, mas não fixa metas e prazos. Neste caso, reconhece-se a importância social dos mares e a necessidade de preservação com vistas à redução da pobreza e à garantia de segurança alimentar com crescimento econômico e trabalho decente. Além disso, reflete-sobre a necessidade de fortalecer a Convenção das Nações Unidas na Lei do Mar (Unclos, na sigla em inglês), cobrando que mais Estados concluam o processo de adesão à iniciativa. Mas qualquer conversa nesse sentido ficou para 2014.

“Apesar do desapontamento, queremos saber dos governos que não estavam bloqueando o texto o que queriam em torno dele”, disse Sue Lieberman, diretora de políticas internacionais do Grupo de Meio Ambiente Pew. “O que pedimos aos governos é fechar um compromisso. O que os chefes de Estado virão fazer aqui? Eles precisam fechar compromissos.”

No último balanço divulgado pelo Itamaraty, mais de 120 chefes de Estado haviam confirmado presença na reunião que será realizada entre amanhã (20) e sexta-feira (22) no Rio, o maior encontro da história da ONU.