Para Bechara, ‘panela de pressão’ do início da Confecom começa a esfriar

Primeiros consensos reduzem a tensão na visão do presidente da Comissão que organizou a Conferência

Bechara comemora primeiros consensos, apesar de haver mais divergências entre os interesses de empresários, governo e movimentos sociais (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

Para o presidente da Comissão Organizadora da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), Marcelo Bechara, a realização do evento coloca a discussão da comunicação em outro paradigma. Ele considera que a conferência só foi legitimada após a aprovação do regimento interno, com a deliberação de que todas as propostas serão apreciadas pela plenária.

Para ele, a tensão existente na Confecom continua, mas vai diminuindo. “Acho que era uma panela de pressão, e acho que a gente abriu a tampa da panela, e ela está começando a esfriar”, compara, em uma breve entrevista coletiva. “Isso não é ruim, porque significa que estamos conseguindo encontrar consenso. Ontem, várias propostas foram aprovadas por aclamação, o que vale dizer que 100% das pessoas no grupo, dividido segmentalmente, pensam da mesma forma. Os pontos de encontro estão aparecendo”, comemora.

“Só teremos clareza sobre os resultados no final do processo, mas tenho certeza de que teremos cumprido um exercício importante”, ressalta. “A comunicação vai mudar de paradigma, porque independentemente de propostas e polêmicas, ela bota na mesa pessoas que não estavam habituadas a dialogar entre si”, avalia.

O presidente da comissão organizadora comemorou o fim da chamada questão sensível nos grupos de trabalho, o que permite levar todas as propostas à votação na plenária. O recurso, exigido na segunda-feira (14) pela Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), permitiria impedir que algumas propostas essenciais para um setor fossem descartadas pela plenária. Era uma forma de embarreirar a discussão, blindando propostas-chave, o que poderia eliminar o debate efetivo.

“Após a aprovação do regulamento interno, meu sentimento foi: ‘legitimamos a conferência’. A maioria absoluta entendeu que todas as propostas apresentadas merecem a plenária, não podemos sufocar as propostas”, opina Bechara.

Bechara acredita que a Confecom cria um canal entre a sociedade, as empresas e o poder público – que também é radiodifusor, além de formular de políticas e definir a Legislação. “Não é porque é a nossa conferência, mas ela é especial, diferente das outras”, elogia-se.  “A grande questão é que não tivemos tempo. Infelizmente, uma conferência dessa ou era assim ou não se conseguia fazer. Optamos por fazer mesmo com apenas seis meses de organização”, explicou.

O consultor jurídico do Ministério das Comunicações ainda comemora o fato de a  Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert) ter enviado observadores à Confecom. “Observador faz parte da conferência, têm direito à voz”, lembra. “Existem rádios no Brasil de alguns associados deles (da Abert) que fizeram delegados”, detalha.

A entidade, à qual são filiadas as principais redes de TV e rádio do país, como a Globo, deixou a comissão organizadora em agosto, apesar de ter sido garanida representação de delegados e na própria conferência de 40% para os empresários, entre outras concessões. A sociedade civil não-empresarial (sindicatos, movimentos sociais e ONGs) têm outros 40% de participantes, enquanto o poder público responde pelos outros 20%.

Em todas as outras conferências de setores como saúde, meio ambiente, direitos humanos, cultura, questões raciais e de mulheres, a participação empresarial foi menor.

Questionado sobre essa super-representação do setor empresarial, Bechara não tem dúvidas de que a escolha do governo foi a melhor. “Que bom que é 40, 40, 20, porque se fosse uma conferência de uma visão só, não seria tão rica, interessante e polêmica, com sentimento de legitimidade”, disse.

Bechara sustenta que nem o governo sabe quando haverá uma próxima conferência, embora exista a proposta de que seja bianual. “Se é  a primeira, é porque vai ter a segunda”, assegura. “Abrimos uma porta permanente, constante e democrática, não tenho dúvida mais”, completa.