Nobel da Paz vê jovens como lideranças e protagonistas da sustentabilidade

Secretário-geral da ONU cobra de tomadores de decisões respeito a opiniões de ativistas

Jovens de diversos países visitam o Vidigal, no Rio, para participar de atividades da Rio+20 (Marcello Casal Jr/ABr)

Rio de Janeiro – O papel das novas gerações na transição mundial ao desenvolvimento sustentável foi um dos principais temas em debate esta manhã na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Houve consenso de que os jovens devem ser protagonistas da mudança e que, infelizmente, estão sendo ignorados pelos tomadores de decisões.

“É a mais poderosa geração desde sempre. Porque eles dominam a tecnologia. Agora eles estão constantemente vendo as coisas ocorrerem”, afirmou o bengalês Muhammad Yunus, Nobel da Paz, durante o debate no Riocentro, na Barra da Tijuca. Ele enfatizou que os jovens de hoje não têm mais as velhas barreiras de gênero, e fizeram também desaparecer os bloqueios provocados pelas diferenças de idade, cobrando papel de protagonismo na definição da nova agenda global.

Conhecido pelo banco de microcrédito que ajudou milhões de pessoas em Bangladesh, Yunus culpou não apenas os chefes de Estado, mas as empresas pela falta de soluções. “Estamos tentando criar negócios para resolver problemas, e não criar negócios para o enriquecimento de alguém. Há muitas companhias que vendem problemas.”

Antes dele, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que está se escrevendo no Rio de Janeiro apenas o início da transição rumo ao desenvolvimento sustentável. “No passado houve uma tentativa de ver os jovens como atores passivos das mudanças. Mas isso está mudando”, disse Ki-moon, cobrando que os governantes sejam mais hábeis ao captar a mudança de relações no mundo, entendendo que os jovens já têm capacidade de liderança neste momento. “Tenho constantemente insistido com os líderes para que ouçam a voz dos jovens. Eles não querem apenas trabalho. Querem um mundo de paz, justiça, oportunidades, com respeito mútuo.”

A consultora de organismos da ONU para o desenvolvimento Jill Van Den Brule recordou que, apesar da grande possibilidade de parte dos jovens de apresentar ideias inovadoras, a maioria deles continua a viver na exclusão provocada por problemas sociais. Para ela, o acesso à energia para 1,6 bilhão de pessoas que continuam privadas desse serviço é a oportunidade mais valiosa para acelerar as mudanças necessárias à superação das demais barreiras. “Precisamos trabalhar juntos com as pessoas jovens para construir soluções mundiais. Enquanto alguns têm acesso às redes sociais, outros não têm eletricidade.”

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva apresentou aos jovens de outros países sua história pessoal, de criança pobre e analfabeta no Acre a senadora eleita pelo PT. Ela abordou principalmente a história do líder extrativista Chico Mendes, morto por líderes agrários da Amazônia por sua luta contra o desmatamento e por justiça social. Marina considera que as conquistas que obteve à frente do ministério do governo Lula foram fruto do aprendizado com Mendes. “Para fazer as coisas, não é preciso ter ambição. É preciso ter compromisso. O compromisso faz com que a gente supere o egoísmo e a ambição realiza o que precisa ser feito em benefício de todos”, afirmou. “Estamos em uma conferência muito importante, e estão dizendo que os resultados, insuficientes, são por falta de ambição. Tenho certeza que se tivéssemos colocado compromisso no lugar da ambição, teríamos conseguido os meios para o financiamento, a governança necessária para implementar a agenda, e um documento que não estaria agora se dizendo que não agrada a ninguém.”