Muro da Maré é maquiagem, acreditam moradores

Moradores não acreditam nas boas intenções do governo ao instalar muro em volta da comunidade (Foto: Elisângela Leite/REDES) A pesquisa “Os muros do invisível”, realizada pelo Núcleo de Estudos e […]

Moradores não acreditam nas boas intenções do governo ao instalar muro em volta da comunidade (Foto: Elisângela Leite/REDES)

A pesquisa “Os muros do invisível”, realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Favelas e Espaços Populares da Rede de Desenvolviento da Maré (Redes), foi apresentada hoje durante o Seminário “A cidade dos e para os mega eventos esportivos: Muros, remoções e maquiagem urbana”, realizado na própria Maré.

O estudo debateu  a tentativa de maquiar a cidade e segregar os moradores da maré por meio de um muro. Espremida entre várias vias expressas, a Maré foi cercada por “barreiras acústicas”. Na época da sua instalação, a justificativa do poder público era, além de diminuir o barulho dos carros, impedir que pedestres alcançassem a via, para prevenir atropelamentos.

O resultado mostra que  nenhum dos grupos questionados (moradores da Maré, moradores que vivem ao longo da via, usuários das vias expressas e vendedores ambulantes) acredita na justificativa oficial. Entre os moradores do bairro, 73% acreditam que a iniciativa aconteceu apenas para maquiar a Linha Amarela. 

Os moradores reclamam também da falta de diálogo com o poder público. Esta percepção foi reforçada pela opinião das lideranças comunitárias ouvidas na pesquisa, que mostraram descontentamento com as prioridades da Prefeitura e do Estado na favela, ao lembrar que o projeto inicial previa a construção de áreas de lazer e outras intervenções urbanas na comunidade, o que nunca aconteceu. Este grupo salientou ainda que, no processo de implantação do muro, a Prefeitura assumiu papel secundário, cabendo à Lamsa (concessionária da Linha Amarela) fazer as negociações dentro da comunidade.

O muro da Maré é representativo de como se sentem os moradores das regiões pobres do Rio de Janeiro. A percepção é de que os grandes eventos não apenas não são direcionados para eles, mas também os prejudicam. O muro é apenas um exemplo das perdas que as comunidades carentes sofrem na cidade, como remoções e transferências de recursos da área social para obras.