Figurão da equipe econômica tucana reclama da queda de juros

O ex-presidente do Banco Central no governo FHC, Armínio Fraga, teceu duras críticas à política de redução de juros do governo federal em entrevista nesta segunda-feira (15) ao  jornal Folha […]

O ex-presidente do Banco Central no governo FHC, Armínio Fraga, teceu duras críticas à política de redução de juros do governo federal em entrevista nesta segunda-feira (15) ao  jornal Folha de S.Paulo. Segundo o ex-czar do tucanato, a queda deveria ser mais lenta, para não ameaçar as metas de inflação. Fraga parece não notar que desde o ano passado, quando iniciou-se esse ciclo de queda da taxa básica de juros, as mesmas críticas vem sendo lançadas, e nenhuma “profecia” dos gurus da economia se concretizou.

Ao contrário da Folha, o Jornal do Brasil teve a curiosidade de ouvir outras opiniões. Outros economistas viram por trás do “choro” de Armínio Fraga, a redução do lucro fácil na aplicação em títulos públicos, sem risco. Fraga opera fundos de investimentos, com aplicação nestes títulos. A queda dos juros destes títulos, corresponde à queda na rentabilidade dos fundos.

O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), Gabriel Leal de Barros, especialista em finanças públicas, considera positivo para a economia: “Faz parte do desenvolvimento do país. Ficou mais difícil ganhar dinheiro fácil (…) Faz bem para as contas públicas, que estavam muito vinculadas ao pagamento da dívida”.

Outro economista, que preferiu não se identificar, mesmo ressalvando que “a posição dele é coerente com uma linha econômica que ele mesmo vem seguindo desde que assumiu o BC”,  afirmou que “senão a maior parte, pelo menos grande parte das críticas dele estão conectadas a esta perda de remuneração do fundo de investimento dele”. 

Outro consultado, que também não quis se identificar, também considerou “óbvio” o fato de que a queda nos juros “é muito ruim para Armínio já que tem atrapalhado o lucro dos bancos e dos fundos”. 

Assim como Fraga, banqueiros e investidores do mercado financeiro têm reclamado do que chamam de “intervenção do governo na economia”, quando o Banco Central atua ativamente na queda dos juros. Curioso que ninguém chamava de “intervenção” quando o mesmo Banco Central subiu juros no passado.

A queda de juros torna mais atrativo investimentos em setores produtivos da economia, como o financiamento imobiliário, em infraestrutura, em empreendimentos industriais e comerciais – e desestimula a aplicação em mera especulação financeira. Alguns destes investimentos produtivos trazem maior risco do que títulos públicos.

Não há o que reclamar: quem deseja a zona de conforto do rendimento sem risco, contente-se com rentabilidades baixas; quem busca taxas de retorno mais altas, invista nas oportunidades que se abrem no Brasil com o crescimento da economia e do mercado interno. Nada além dos fundamentos básicos do capitalismo, onde o lucro deve ser proporcional ao risco.