Falta de organização marca transporte no Rock in Rio

Em maio, quando o Rock in Rio era apenas uma expectativa, a organização do evento anunciou que não haveria lugar para carros no festival. Todos os espectadores deveriam usar o […]

Em maio, quando o Rock in Rio era apenas uma expectativa, a organização do evento anunciou que não haveria lugar para carros no festival. Todos os espectadores deveriam usar o transporte público para chegar ao local, em Jacarepaguá, Zona Oeste, já que não haveria estacionamento para carros particulares nas redondezas. Aquilo que foi uma iniciativa inédita e positiva tornou-se, na prática, em um pesadelo para quem visitou a Cidade do Rock.

Os problemas de locomoção para os milhares de fãs foram imensos. O reforço prometido pela Prefeitura para o transporte até a Cidade do Rock ou para o Terminal Alvorada (de onde saíam ônibus para o local dos shows) não foi suficiente. No primeiro dia do festival, uma sexta-feira, todos os ônibus que iam em direção à Barra por volta das seis da tarde estavam lotados e a demora não foi menor do que em dias normais.

O trânsito para chegar da Zona Sul até a Barra, por sua vez, foi muito pior do que em dias normais. “A Lagoa (um dos bairros que dão acesso à Barra) teve trânsito em todos os momentos. Estava claro que muitas pessoas usaram o carro para chegar a locais próximos à Cidade do Rock”, diz Jaques Sherique, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ). Como as ligações viárias entre a Zona Sul e a Barra são limitadas, o caos se instalou.

Como exemplo ilustrativo, vou descrever o meu caminho para chegar ao Rock in Rio no primeiro dia do evento. Saindo de Laranjeiras, esperei cerca de 20 minutos para pegar um ônibus até o Jardim Botânico. Com o trânsito livre, o trajeto durou uns 10 minutos. De lá, esperei a linha Botafogo-Alvorada por nada menos que 30 minutos. De acordo com informações oficiais disponíveis no Google Maps, o intervalo da linha nesse horário deveria ser de 5 minutos. Com o ônibus lotado, o trajeto até o terminal Alvorada levou quase duas horas. Em um dia normal o mesmo trajeto pode ser feito em metade do tempo. 

Se para sair da Zona Sul, área nobre do Rio, a dificuldade foi grande, em outros locais a situação era pior. “Quem vinha da Baixada, por exemplo, não tinha qualquer opção de ônibus oficial. Era preciso se deslocar de carro até um ponto onde houvesse ônibus para a Barra”, afirma Jaques Sherique. 

O trajeto de volta, que poderia ser mais tranquilo em função do horário – os shows terminaram de madrugada – trouxe novos problemas. A espera para os ônibus era longa. No Terminal Alvorada, apenas cinco linhas levavam os espectadores para a Zona Sul e Centro. Como os ônibus de linha não funcionavam, a solução era descer em uma das ruas principais e andar até o destino. Com sorte, era possível pegar um táxi. 

Em suma, faltou planejamento para dar conta da previsível demanda. “Essa quantidade não é tão grande. No Reveillon em Copacabana, um milhão de pessoas vai para a praia e não se vê esse caos. O deslocamento de 100 mil pessoas não deveria ser tão problemático”, afirma Sherique. A título de comparação, toda a Zona Oeste do Rio, onde está a Barra e Jacarepaguá, conta com cerca de 1,3 milhões de habitantes. 

A expectativa é que as ligações da Barra com a Zona Sul melhorem consideravelmente até a Olimpíada, que também será realizada em Jacarapaguá. Isso porque estão sendo construídos dois corredores de ônibus na região. Para a próxima edição do festival, no entanto, anunciada para 2013, o problema de locomoção deverá ser semelhante, se nada for feito.