Diretor de ‘Ecohabitat’ defende que vida urbana e sustentabilidade caminhem juntas

Correria e estresse, características da vida urbana, não são empecilhos para viver de forma sustentável, avalia Paulo Perez, diretor do documentário “Ecohabitat”. Dividido em dois episódios de 56 minutos, o […]

Correria e estresse, características da vida urbana, não são empecilhos para viver de forma sustentável, avalia Paulo Perez, diretor do documentário “Ecohabitat”. Dividido em dois episódios de 56 minutos, o material mostra iniciativas bem-sucedidas de sustentabilidade.

O próprio Perez viveu nove anos em uma ecovila, onde se especializou em cozinha natural, e três anos em um Laboratório de Permacultura Urbana, a Casa dos Hólons, na capital paulista. “Nosso estilo de vida era de trabalhadores autônomos do meio audiovisual. Ou seja, sempre tivemos uma vida bem urbana e corrida. Mas isso não nos impediu de viver bem. Aliás, muito bem! Você fica com a consciência leve, quando vive dessa forma. A melhor maneira de praticar tudo isso é ter atitude”, pontuou em entrevista à Rede Brasil Atual.

A rica experiência lhe rendeu um senso crítico sobre ações de sustentabilidade. Na visão de Perez, o brasileiro ainda pensa o tema de forma superficial e busca soluções paliativas. “Hoje a grande maioria das escolas só reproduz o que já vemos de paliativo: reciclar, diminuir etc. Mas não ensinam conceitos de planejamento, como os propostos na permacultura. Não ensinam a valorização e respeito à vida”, disse.

Além do trabalho como documentarista, Perez também é cinegrafista. Em 2000, ele começou a chamar a atenção como editor do Programa Jornalístico Caminhos e Parcerias, da TV Cultura, que venceu o VII Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo. A partir de janeiro de 2012, o documentário Ecohabitatchega a duas mil escolas.

Confira a íntegra da entrevista:

Como surgiu a ideia de realizar o documentário “Ecohabitat” – Sustentabilidade em Ação e por que dividi-lo em dois capítulos para serem exibidos na televisão?

Paulo Perez – Surgiu pela experiência que tive durante nove anos vivendo e produzindo vídeos em ambientes sustentáveis. Juntou-se comigo o roteirista Thiago Tognozzi, também morador de ecovila e a produtora Cynthia Alario, com experiência em distribuição alternativa e naturopatia, na área da saúde e surgiu o “Ecohabitat”.  Os episódios são assim divididos por conta do formato televisivo, já que nossa proposta é exibir o filme em diversos veículos, a principio na televisão, mas também foram produzidos 2 mil DVDs que serão distribuídos em escolas pela Rede Brazucah, uma rede composta por escolas e universidades do estado de São Paulo (www.redebrazucah.com.br). Além disto, os dois episódios ficarão disponíveis no site ecohabitat.tv.br. Queremos que as pessoas assistam, principalmente os jovens. Que testem o que mostramos no programa e, através do blog do ECO, criarmos uma comunicação direta com nosso público. Enfim, queremos promover, de fato, os hábitos sustentáveis!

Após tanta pesquisa, de que modo você acredita que o brasileiro em geral se relaciona com as soluções e tecnologias sustentáveis? Por quê?

Os brasileiros ainda se relacionam pouco com as soluções e tecnologias sustentáveis. Muito porque ainda não chegamos ao ponto de escassez real em nosso país. Na Austrália, por exemplo, boa parte da população tem horta em casa e o governo trabalha políticas públicas para que o uso de água seja mais sustentável. Mas também, em nosso país, falta informação. A mídia sempre fala que temos que economizar água, fazer xixi no banho, trocar lâmpadas e separar o lixo. Isso é paliativo. Não basta por si. E os governantes também não facilitam. Ainda não temos incentivo para captação de água de chuva, ou captação doméstica de luz solar, nem projetos de grande escala para o tratamento biológico do esgoto doméstico – biológico porque as plantas reutilizam e neutralizam completamente nosso esgoto. Vamos assumir: também há um certo comodismo por grande parte da população. Alguns dizem que é difícil, ou chato, ser sustentável. Outros reclamam da falta de tempo. É preciso, portanto, rever nossos hábitos, se abrir para o novo. Nossas escolas precisam se preocupar com as crianças! Se começarmos a educá-los com esses conceitos desde cedo, no futuro  veremos uma real mudança no comportamento das pessoas. Hoje a grande maioria das escolas só reproduz o que já vemos de paliativo: reciclar, diminuir etc. Mas não ensinam conceitos de planejamento, como os propostos na permacultura. Não ensinam a valorização e respeito à vida – das outras pessoas, dos outros animais, do planeta.

Das soluções encontradas e mostradas no documentário, qual você considera a mais criativa? Por quê?

O aquecedor solar de baixo custo, porque é possível economizar até 80% de energia elétrica do chuveiro. E o aquecedor só utiliza cano e forro de PVC, cola de PVC e uma caixa d’água. São materiais simples e de custo baixo. E as pessoas vão economizar dinheiro e os recursos naturais. 

É possível para qualquer pessoa adotar soluções práticas e sustentáveis em casa? De que modo isso pode ser feito?

Sim, é possível. Logicamente cada indivíduo tem suas limitações, sejam territoriais, climáticas, ou até mesmo pessoais. Mas cada atitude faz a diferença e rapidamente estas práticas se tornam comuns e prazerosas. Eu e o roteirista, Thiago Tognozzi, moramos e trabalhamos durante 3 anos (2007 a 2011) em um Laboratório de Permacultura Urbana, a Casa dos Hólons, que fica em São Paulo, no bairro de Campo Belo. Eu já tinha experiência de viver dessa forma, mas o Thiago só teve contato com tudo isso lá. Nós praticávamos diariamente a reutilização dos resíduos da cozinha. O esgoto da casa era tratado num sistema de biológico de raízes, chamado Fossa Séptica Círculo de Bananeiras, captação da água da chuva para limpeza e rega das plantas. Havia também um banheiro seco compostável e um teto verde que plantávamos ervas medicinais, legumes e hortaliças. As Eco-cabanas onde morávamos foram construídas 99% com materiais recolhidos na rua. E nosso estilo de vida era de trabalhadores autônomos do meio audiovisual. Ou seja, sempre tivemos uma vida bem urbana e corrida. Mas isso não nos impediu de viver bem. Aliás, muito bem! Você fica com a consciência leve, quando vive dessa forma. A melhor maneira de praticar tudo isso é ter atitude. Buscar conhecimento, informação. Na internet tem muito material sobre todas essas ferramentas. E instituições como a UmaPaz, localizada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, são verdadeiros pontos de encontro de quem quer saber o que fazer. Não deveremos esperar por iniciativas do governo, ou mesmo das empresas. Faça você mesmo! Aos poucos vá mudando, transformando sua casa. Se estiver construindo, melhor ainda! Procure bioarquitetos e soluções sustentáveis.

Como você avalia a posição do Brasil nesse sentido em termos do cenário mundial?

Infelizmente, o Brasil ainda está muito atrasado. O governo bate em teclas de medidas paliativas. Não incentiva a população com políticas públicas que respeitem o meio ambiente, nossa história e cultura. E somos um dos países mais ricos em biodiversidade. É triste! A hidrelétrica de Belo Monte é um ótimo exemplo de um governo que ainda não sabe aplicar a sustentabilidade de forma integral. Já existem muitas formas de geração de energia limpa, sem desalojar comunidades históricas e destruir florestas. Mas é preciso investimento, estudo e profissionais capacitados para implantar essas tecnologias na geração de energia em larga escala. É preciso também vencer a ganância de alguns grandes empresários e políticos. Vencer as indústrias do petróleo que boicotam e retardam todo tipo de evolução realmente sustentável. Precisamos agir.

Por que é tão importante essa preocupação com a sustentabilidade?

Extinção é para sempre! Sustentabilidade, para nós do “Ecohabitat”, é a palavra e ação que garante a sobrevivência de todas as espécies do planeta.  A energia limpa garante nosso convívio harmonioso com o meio ambiente, sem deixar de lado o conforto e a tecnologia que somos totalmente dependentes! O ser humano já foi responsável pela extinção de vários seres e por vários desastres ecológicos. A energia limpa proveniente do sol, do ar, das ondas do mar e de eletroimãs por não ser tóxica e por não desperdiçar os recursos naturais traria uma abundância para todo planeta, disponibilizando mais tecnologia para cada ser humano gerando mais riqueza e felicidade.

Certamente, há material que ficou de fora do documentário. Você pretende dar algum destino para ele?

Nosso material extra estará disponível no site ecohabitat.tv.br. E em 2012 faremos uma nova versão para festivais de cinema ambiental.