Vergonha alheia

Cunhistas já tentaram também ‘impichar’ o Rodrigo Janot

É a corrupção querendo dar golpe de estado. Até para dar golpe paraguaio, oposição dá vexame. Processo de impeachment é didático, vai depurar o Parlamento e expor à luz quem é quem na política nacional

Câmara dos Deputados e Agência Brasil

Cunha e Paulinho tentaram intimidar o governo a não estender o mandato do procurador-geral

Em 1964 quem disparou o golpe que levou à ditadura foi o general Olímpio Mourão Filho, movido, sobretudo, por uma ideologia reacionária da Guerra Fria que existia na época. Agora, querer disparar o golpe com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em retaliação à uma presidenta honesta que se recusou a salvá-lo no Conselho de Ética, já é esculhambação. Torna o golpe paraguaio mais ridículo do que já é.

Quer dizer que um deputado é pego com a boca na botija tendo dinheiro clandestino na Suíça, denunciado pelo procurador-geral da República por corrupção, recebimento de propinas e lavagem de dinheiro e faz acordo com a oposição golpista para deflagrar um golpe de Estado para salvar a própria pele?

É o golpe de Estado da corrupção, para a corrupção e pela corrupção. E a oposição demotucana, por mais que tente disfarçar na frente das câmeras de TV, se abraça a Cunha. Se abraça ao golpe de Estado da corrupção.

É preciso lembrar que o golpe da corrupção já vem sendo articulado há algum tempo, sofrendo seguidas derrotas. O primeiro fracasso foi a tentativa de fazer uma espécie de impeachment no procurador-geral da República, Rodrigo Janot, bombardeando sua recondução ao cargo.

Em 16 de maio, reportagem do jornal O Globo informava que “Cunha promete ‘inferno’ a Dilma caso Janot seja reconduzido”. Dilma o reconduziu em agosto. Como se vê Cunha cumpre sua palavra, culminando com o disparo desse golpe de Estado da corrupção.

O deputado Paulinho da Força (SD-SP), da tropa de choque de Eduardo Cunha e aliado de primeira hora no golpismo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), chegou a fazer requerimentos na CPI da Petrobras para tornar Rodrigo Janot investigado. Um dos requerimentos pedia a quebra do sigilo telefônico do procurador-geral. Outro convocava para prestar depoimento. Foi no dia seguinte ao de uma busca e apreensão no departamento de informática da Câmara para colher provas sobre a participação de Cunha em propinas sobre contratos de sondas da Petrobras. O jornal espanhol El País estampou a manchete na época: “Alvo de busca da Lava Jato, Cunha retalia e quer procurador-geral na CPI”. Os requerimentos do deputado Paulinho pegaram muito mal, vistos como manobra de quem queria pressionar o Ministério Público para engavetar crimes de corrupção, e não foram adiante.

Se em maio o El País falava que Cunha retaliava Janot, agora até os jornais com linha editorial hostil à Dilma estamparam nas manchetes que Cunha abriu o impeachment em retaliação à Dilma. Mas há males que vêm para bem. Esse processo de impeachment, esse golpe de Estado da corrupção, é muito didático para depurar o Parlamento e expor à luz do sol quem é quem na política nacional.

De um lado, quem está ao lado de Cunha, da corrupção, das contas na Suíça, de quem entra na política pensando em se dar bem em vez de pensar na nação. De quem faz conchavos para blindar de corruptos, manter a impunidade e perpetuar os esquemas de corrupção.

Do outro lado quem está ao lado de Dilma e contra o modo de agir de deputados como Cunha. Do lado de quem quer elevar o nível e qualificar a atividade política, tirando-a das páginas policiais e impor-se como instrumento de transformação para melhorar a vida das pessoas e desenvolver toda a nação.

Não precisa pensar muito para concluir que, desse processo, aqueles que ficarem ao lado Cunha, ao lado do golpe de Estado da corrupção, estarão enterrando suas carreiras políticas. Ganha o Brasil ao se livrar de cunhas infiltradas na vida política nacional.