Boaventura parte 6 – De inconformismo conformado a rebeldia competente
Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma poderosa síntese dos processos pelos quais passa o mundo, durante o Fórum Social Mundial. Confira nesta sexta parte
Publicado 29/01/2010 - 14h11
Direto de Porto Alegre – Sabemos hoje que nosso Fórum Social Mundial não quer ficar com os inconformistas conformados. Queremos criar rebeldes competentes. E é para isso que vamos estar na próxima década.
- Cobertura completa do FSM 2010
- Queiramos ou não, pertencemos à minoria que se beneficia da injustiça
- Foi errado colocar no lixo da história a palavra revolução
- Cinco transições necessárias para mudar o mundo
- Um “selo” do Fórum Social Mundial em ação
- Temas para avançar nas ações coletivas
- De inconformismo conformado a rebeldia competente
Tenho alguma preocupação com a próxima década. Penso que não vai ser tão brilhante quanto a outra. Talvez o primeiro sinal preocupante foi a vitória da direita no Chile. Obviamente por culpa de uma esquerda que não soube sê-lo ao longo dos últimos vinte anos.
A primeira ideia fundamental é de que o imperialismo dos Estados Unidos se voltou outra vez para a América Latina. Isso é preocupante para todos nós. Obcecados com o Oriente, com a necessidade de controlar recursos naturais, eles agora estão a pensar de novo que não podem perder o controle desses recursos na América Latina.
As bases (militares dos EUA) na Colômbia não são contra as Farc, não são pelo narcotráfico. São para mostrar à América do Sul que podem fazer suas exibições, mas que vai ser complicado no momento em que puserem em causa o acesso das empresas transnacionais aos recursos das empresas nesse continente.
Tenhamos isso em mente porque vão transformar a Colômbia na Israel da América Latina. Isso vai desestabilizar países. A Venezuela será o primeiro. E podem vir outros.
A outra razão é que os governos progressistas, se olhamos para as políticas sociais, não há grande inovação além de transferência de renda. Obviamente é uma transformação. Eu fui um dos primeiros a apoiar este governo pelo Bolsa Família. Mas é extremamente limitado porque distribui lá embaixo, mas não mexe nos mecanismos que criam injustiça social e que criam empobrecimento. É assim no Equador, na Venezuela e na Bolívia. Se misturamos essa timidez com o imperialismo norte-americano, temos uma mistura explosiva.