Crise americana

Washington prende mutuários em protesto contra impunidade de Wall Street

Depois de procurador-geral norte-americano dizer que bancos são grandes demais para falir, ativistas cobram respostas do Congresso e de Obama

Home Defenders League

Observados por policiais, manifestantes ostentam faixas “O povo é grande demais para a cadeia” e “Bancos despejados”

São Paulo – Dezenas de manifestantes promovem desde segunda-feira (20) em Washington, Estados Unidos, uma semana de mobilizações para protestar contra a impunidade dos executivos do sistema bancário.

Com sofás instalados na porta do prédio do Departamento de Justiça norte-americano, portando faixas e cartazes, os ativistas – liderados pela organização Home Defenders League (organização que reúne nacionalmente mutuários do sistema de  habitação lesados pela crise bancária) – alertam que mais de 1,5 milhão de americanos, a maioria pobres e moradores de comunidades negras, já sofrem ações de despejo. E que outros 12 milhões – um quarto dos proprietários endividados do país – correm o mesmo risco, já que devem muito mais dinheiro em suas hipotecas do que o valor de suas casas.

Os ativistas lembram que, cinco anos depois da quebradeira que provocou a mais grave crise econômica desde 1929, nenhum executivo de Wall Street foi preso. O fato que desencadeou a manifestação foi um recente pronunciamento do procurador-geral Eric Holder. Espécie de Roberto Gurgel dos Estados Unidos, Holder cunhou em março, numa comissão do Senado expressões que revoltaram os americanos, por admitir que os grandes bancos e seus executivos têm escapado das acusações de fraude simplesmente porque são ricos e poderosos. “Too big to fail”. Oficializou, portanto, que os bancos são grandes demais para falir e, segundo os manifestantes, “too big to jail”, grandes demais para a cadeia.

Presos mesmo, desde a tarde de segunda-feira, estão 25 participantes do protesto. De acordo com o ativista Stephen Lerner – um dos organizadores do movimento Ocupar Wall Street e presente ao ato em Washington – homens e mulheres foram arbitrariamente detidos pela policia local.

“Eles, no entanto, se recusam a dizer seus nomes. Quando inquiridos, apontam os nomes de executivos de bancos que deveriam estar em seus lugares – como Brian Moynihan (Bank of America), John Stumpf  (Wells Fargo), Jamie Dimon (JPMorgan Chase), Richard Davis (EUA Banco), entre outros.”

A semana de mobilização é apoiada por mais de 500 ativistas em diversas partes do país e cerca de 50 deles permanecem diante do prédio do Departamento de Justiça.  “Mais uma vez, recursos governamentais foram empregados para colocar mutuários lesados na prisão por pedir justiça, enquanto há zero de recursos para investigar e julgar o mais alto nível de executivos de Wall Street, cujas ações causaram a grande recessão”, diz um dos manifestantes, Nathan Henderson-James, por e-mail, à Rede Brasil Atual. “Gastamos trilhões de dólares para socorrer os bancos de Wall Street sem nenhuma responsabilização criminal por suas atividades.”

O movimento reivindica do Congresso americano e do governo Obama que Wall Street pague pela crise e que seus executivos sejam processados. Exigem ainda a renegociação das hipotecas para valores compatíveis com os valores de mercado e com a capacidade de pagamento dos mutuários, além da criação de programas de geração e recuperação de renda dos mais atingidos pela crise, sobretudo as comunidades negras.

O presidente do Sindicato Nacional de Trabalhadores nas Comunicações, Larry Cohen, enalteceu a inciativa dos manifestantes e criticou a procuradoria-geral. “A arbitrariedade e a omissão envergonham o Departamento de Justiça.”

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