calamidade

Sergio Cabral e a arte de desaparecer

O que se desenhou nesses dez anos de governo Sergio Cabral e Pezão (PMDB) foram muitas denúncias. Convivemos com o fisiologismo clássico dos caciques regionais

memória/ebc

Cabral está desaparecido desde as manifestações de 2013, mas continua operando nos bastidores

O Cafezinho – Uma das falas mais inacreditáveis e que passou “despercebida” nas entrevistas dadas à mídia corporativa em que o então governador em exercício do Rio de Janeiro Francisco Dornelles (PP), ao decretar pela primeira vez na história “estado de calamidade pública” no Rio de Janeiro quando indagado sobre as causas da crise, foi:  “O que aconteceu ontem pertence à história”. Como? O que aconteceu pertence à história?

Se o governador não é capaz de dizer, se a mídia corporativa (e seus respectivos interesses) é simplesmente incapaz de argumentar – “Mas, como assim?” – eu e O Cafezinho não nos furtaremos a dizer os responsáveis pela tragédia e o circo de horrores em que vivemos no Estado do Rio de Janeiro neste momento, e eles são o ex-governador Sérgio Cabral e o PMDB.

O PMDB governa o estado do Rio de Janeiro, e vários outros municípios da Região Metropolitana, inclusive a cidade do Rio de Janeiro sede Olímpica, há no mínimo 15 anos. Levando-se em consideração as pequenas intermitências, podemos falar em 20, 30 anos de governos do PMDB. Governos muito bem ocupados por outros partidos, como o PP, do atual governador, o PSDB, DEM, entre outros menores da centro-direita. Também não podemos esquecer que nossa centro-esquerda também habitou, desde sempre, os governos do PMDB, com alianças regionais e nacionais. Lula dizia que “Sergio Cabral era o cara” aqui no Rio. O PT carioca tornou-se um satélite do PMDB, assim como o PPS também o é em relação ao PSDB em São Paulo. O PCdoB também fez parte e apoio o PMDB fluminense até… ontem. Agora todos rejeitam o filho feio, mas estiveram lá, desde sempre.

E o que se desenhou nesses dez anos de governo Sérgio Cabral/Pezão/PMDB (isso sem contar a cidade do Rio e outros municípios)? Denúncias, muitas denúncias. Convivemos com o fisiologismo clássico dos caciques regionais, com o consórcio partidário-empresarial em que o orçamento de todas as grandes obras e concessões públicas foram repassadas para os grandes investidores/doadores de campanhas. Denúncias de compra de votos, de uso eleitoral da máquina pública. Denúncias de associação com milicianos/máfia (como esquecer da  já clássica entrevista do atual prefeito do Rio Eduardo Paes, PMDB, ao RJTV, dizendo que alguns “amigos” estavam ajudando na segurança em alguns bairros da zona oeste da cidade). Denúncias de envolvimento em corrupção de praticamente todos os caciques políticos do PMDB nas delações e investigações da Lava-Jato. Lembremos: Eduardo Cunha é deputado federal eleito pelo… PMDB do Rio de Janeiro!

E diante dessas “parcas” denúncias (com ironia, por favor), os políticos do PMDB do Rio de Janeiro vivem certa tranquilidade de gestão, principalmente em relação à pressão pública da grande mídia corporativa. Apesar do “aperto” recente. Também pudera, não?

O galopante endividamento público já vinha denunciado desde meados de 2014 por muitos políticos de oposição ao PMDB. Os juros associados às novas dívidas também. Os pedidos de auditoria da dívida pública estadual simplesmente ignorados. O aparelhamento do TCE por indicados políticos. O silêncio sorridente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, movido a muitos aumentos de sortidos auxílios. O avanço galopante do extermínio de pobres e repressão política promovidos pela PMERJ. A conveniente preguiça jornalística de jornalões e empresas de comunicação. Tudo isto no governo de… Sergio Cabral!

O ex-governador Sergio Cabral está desaparecido desde as Manifestações de 2013, quando todos os fatores acima listados estavam na boca de grande parte do jovens manifestantes que foram às ruas e, mais uma vez, foram reprimidos, violentados e perseguidos pela PM fluminense. Especialidade da casa.

Sergio Cabral desapareceu em 2013, mas continuou operando nos bastidores. Através da máquina do PMDB e do desencantamento da população fluminense, elegeu seu vice, Pezão, como governador em 2014. Também elegeu seu filho, Marco Antônio Cabral (PMDB) a deputado federal, e que hoje é o secretário estadual de esportes, no ano das Olimpíadas, diante da sua grande experiência de… 23 anos!

O governador Francisco Dornelles pode ter esquecido! A grande mídia corporativa também pode ter esquecido! Mas eu não esqueci, e certamente a população do Rio de Janeiro também não. Os responsáveis pelo estado de calamidade política em que vivemos neste momento são: Sergio Cabral e o PMDB.

Obs.: O Globo lançou, mais uma vez, um editorial on line e à tarde, só que dessa vez é, em nome das Olimpíadas e de nossa “imagem” internacional, uma tentativa de salvar o PMDB do Rio de Janeiro, até porque ele foi decisivo, via Eduardo Cunha, para a golpe e a manutenção do ilegítimo Michel Temer.