Ariovaldo Ramos

Recuamos 100 anos, empobrecemos e ainda perdemos Elza Soares. Como lidar com tanta dor?

Parece não haver consciência suficiente para processar tudo isso. Voltamos ao tempo dos velhos coronéis, agora escondidos atrás do pomposo nome de agronegociantes

Stephane Munnier/Divulgacao
Stephane Munnier/Divulgacao

Como lidar com tanto atraso? Perdemos Elza Soares, empobrecemos artisticamente, perdemos a voz do milênio. E continuamos com os velhos problemas, acrescidos do triste fato de que começamos a perder crianças para a covid. E continuamos a ter, da parte do governo federal, a mesma resistência, a ponto de sugerir que as mortes de crianças não foram suficientes para gerar ações emergenciais, como liberar e promover a vacinação imediata das mesmas. Governadores estão, mais uma vez, tomando a iniciativa apesar da postura federal. O que mudou, afinal?

Isso pode significar que a CPI da Covid, simplesmente, não gerou nada. Difícil lidar com isso. Parece que estamos patinando na história. O economista Eduardo Nunes diz, em uma de suas análises, que este governo nos levou para a época pré-Vargas, ou seja, para a década de 1920.

São 100 anos de atraso!

Parece não haver consciência suficiente para processar tudo isso. Voltamos ao tempo dos velhos coronéis, que, agora, se escondem atrás do pomposo nome de agronegociantes.

Isso sem contar o aumento da violência contra a população indígena e quilombola e defensores dos direitos humanos. Além da violência física, temos a violência institucional. Houve denúncia de que o governo federal pensou em levar os garimpeiros ao mesmo reconhecimento de povos tradicionais, como os indígenas e quilombolas.

A Anvisa, que atendeu a todos os desejos dos agronegociantes, ao liberar os piores e mais execrados agrotóxicos, foi censurada de forma descarada por recomendar a vacinação infantil, reconhecendo a qualidade técnica das vacinas oferecidas.

E ministros foram visitar, precipitadamente, a criança que teve suspeita de ter sido prejudicada pela vacina, o que foi, rapidamente, desmentido por exame levado a cabo por 10 reconhecidos técnicos.

Mas ninguém viu o presidente se abalar diante dos cataclismos que acometeram alguns dos estados da federação. E isso em ano eleitoral!

E o principal possível candidato à presidência foi resistido por ter dito que revogaria a reforma, dita trabalhista, que, de fato, foi a legalização do trabalho análogo à escravização.

Só falta descobrirmos que o presidente conta com recursos ou dados não previstos e que, mais, voltou para o período pré-revolução francesa. E, se ainda não o disse, já age como se o Estado fosse ele.


Ariovaldo Ramos é coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. E apresentador do programa Daqui pra Frente, todas as quartas, às 20h, na TVT

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