Desenvolvimento em foco

Entenda como as plataformas digitais estão dando mais confiabilidade aos negócios imobiliários

Tecnologia atua para reduzir o conflito no mercado comercial com aumento da rapidez das transações, maior transparência e melhora do emprego de ativos e da adaptação às exigências de clientes

geralt / Pixabay
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Ter uma presença de plataforma digital vem se tornando importante para os profissionais do setor alcançarem um campo mais amplo de potenciais clientes

Em nota técnica na 22ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), tratamos das plataformas digitais e o setor imobiliário a partir de um levantamento que fizemos da literatura sobre o assunto. Assim, diversas ideias e conceitos tratados na nota foram extraídos de artigos, papers e sites, cujos autores são citados na nota, cuja íntegra está disponível aqui.

O desenvolvimento de novas tecnologias digitais vem mudando as formas tradicionais de trabalho e de fazer negócios, recriando ou criando organizações. A internet das coisas, computação em nuvem, inteligência artificial, robótica, realidade aumentada, big data e ambientes de simulações são exemplos dessas tecnologias digitais que revolucionaram os modelos de negócios das empresas.

As plataformas de negócios na internet, por exemplo, estão impactando radicalmente a organização das empresas e as suas relações com clientes e fornecedores. Ecossistemas de negócios como Amazon, Google, Uber, Airbnb, Mercado Livre e Alibaba são apenas alguns exemplos de plataformas digitais que vêm transformando as atividades econômicas e sociais, com grande capacidade de alcance de mercados em velocidades exponenciais.

Neste sentido, considerando a transformação digital e o avanço do escopo industrial para a versão indústria 4.0, nos últimos anos o setor imobiliário tem visto um aumento de investimentos de capital de risco em startups para desenvolver tecnologia. Plataformas digitais que permitem que dois ou mais grupos interajam por um ambiente virtual têm sido exemplo dessas novas startups que estão surgindo.

Troca de valor e capacidade de interação

Essas arquiteturas digitais, denominadas como plataformas, constituem um ecossistema chave para troca de valor, visto que possuem uma capacidade de interagir de forma eficiente com diferentes partes interessadas, funcionando como um intermediário da organização de conexões entre agentes de mercado.

Dessa forma, em prol da expansão dos serviços digitais no setor imobiliário, ter uma presença de plataforma digital vem se tornando importante para os profissionais do setor alcançarem um campo mais amplo de potenciais clientes e conquistar maior participação de mercado ao longo do tempo. Estudos evidenciam que a maioria dos compradores de imóveis estão preferindo usar a web para obter mais insights, ficarem mais informados, pesquisar mais sobre imóveis e economizarem tempo nesse tipo de transação comercial e consagrando uma mudança importante na relação entre a figura do corretor e a do cliente.

O setor imobiliário possui uma característica diferenciada em relação a outros, uma vez que a dimensão do produto é acompanhada por uma importante dimensão do serviço, operacionalizada pelos corretores imobiliários por meio da disponibilização de diversificadas informações que permitem aos potenciais compradores imaginarem-se interagindo com o produto. Assim, a execução eficaz desse serviço está intimamente ligada ao desenvolvimento de ferramentas digitais ofertadas aos clientes.

Redução de conflitos e outros benefícios

Neste contexto, a tecnologia imobiliária vem se mostrando relevante para reduzir o conflito no mercado comercial, por meio do aumento da rapidez das transações, do aperfeiçoamento da transparência, da melhora do emprego de ativos e da adaptação aos anseios e exigências de um cliente em evolução, o que diminuiu sua dissonância cognitiva.

Nessas tecnologias introduzidas no setor imobiliário, as plataformas digitais vêm ganhando destaque desde 2012, principalmente nos Estados Unidos, onde várias plataformas para compra e venda de imóveis que conectam os compradores, vendedores, corretores e agentes, permitindo transação online comercial, surgiram para facilitar o investimento em imóveis. Desde a procura por imóveis residenciais e listagem de propriedades para venda até o envio de propostas, negociação de ofertas e conclusões de vendas.

As plataformas têm dois recursos principais além de quaisquer outros requisitos (como efeitos indiretos de rede), pois elas permitem interações diretas entre dois ou mais lados distintos e permitem que cada lado seja afiliado à plataforma. Os mesmos autores afirmam que por interação direta, dois ou mais lados distintos mantêm o controle sobre a interação e, por afiliação, que os usuários de cada lado realizam conscientemente investimentos específicos (por exemplo, gasto de tempo e dinheiro) na plataforma para que a interação ocorra diretamente uns com os outros.

Percepção dos usuários

Ao investigarem os fatores de percepção dos usuários para utilizarem as plataformas online de imóveis, Ullah e alguns outros autores, em artigo de 2021, identificam 19 fatores muito importantes para os usuários dessa tecnologia digital, sendo nove relacionados com o serviço, oito relacionados com a informação e dois relacionados com a qualidade dos sistemas. Os mesmos autores ressaltam que a confiabilidade das informações, precisão das informações e credibilidade das plataformas online são os três principais fatores para os usuários.

A literatura também ressalta barreiras à não adoção de tecnologias digitais disruptivas no setor imobiliário. Estas dificuldades variam de aspectos tecnológicos e capacidades para recursos humanos e restrições organizacionais ou ambientais. Por exemplo, nas barreiras tecnológicas destacam-se altos custos de software e hardware, nas barreiras organizacionais citam-se a falta de gestão e confiança dos credores na inovação e adoção de novas tecnologias, e as barreiras ambientais abrigam alta preocupação com segurança e privacidade por parte dos usuários e falta de confiança na terceirização dos dados organizacionais.

Entretanto, em alguns países com economias mais avançadas, já existe um movimento de incorporação de tecnologia da informação e comunicação em seus modelos de negócios, em busca de melhorar a produtividade e a eficiência. Segundo essa perspectiva, há várias tecnologias envolvidas nesta tendência mundial, como a internet das coisas, robótica inteligente, big data, blockchain, plataformas digitais e computação visual, que estão fornecendo um suporte valioso para a indústria 4.0 e contribuindo para mudanças radicais nos tipos de serviços e modelos de negócios.

Suporte à inovação

Simonsson e Magnusson (2018), ao pesquisarem sobre inovação do modelo de negócio digital, destacam que a estratégia de plataforma online é importante para as empresas, pois constituem uma chave para oferecer suporte ao aumento da variedade de produtos oferecidos ao mercado, reduzir custos e o tempo de lançamento.

Leia também: Desafios das transformações digitais nas empresas e o legado da pandemia

Li (2020), ao examinar como as tecnologias digitais facilitam as inovações dos modelos de negócios nas indústrias, identificou uma série de tendências significativas em inovações, desde o uso crescente de exclusividade por meio de personalização, extensão de marca por meio de associação, até preços dinâmicos e modelos “pague o quanto quiser”. O autor conclui que uma inovação no modelo de negócio não envolve apenas novas ideias, mas também inclui novos impactos. Isso se reflete na crescente adoção de modelos de portfólio em quatro aspectos – portfólio de mercado, de produtos, modelo de negócios multifacetado e portfólio sequencial.

Desta forma, pretende-se com esse debate inicial auxiliar tanto as empresas como os clientes a tomar melhores decisões. As novas tecnologias estão disponibilizando informações mais precisas e confiáveis, ajudando os consumidores a decidirem por uma compra ou aluguel, evitando menos arrependimentos entre os consumidores imobiliários, e tornando as empresas com maior capacidade competitiva perante os concorrentes.


Anderson Gedeon Buzar Reis, José Orcélio do Nascimento, Simona Adriana Banacu de Melo e Edair Canuto Rocha são doutorandos em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Ricardo Pereira Trefiglio é mestrando em Administração pela USCS