Plano de Doria é um risco absurdo ante o estado da pandemia em São Paulo
‘Temo imensamente pelas nossas vidas nesse momento’, diz o médico sanitarista e presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Campinas, Pedro Tourinho
Publicado 27/05/2020 - 16h57
As regiões metropolitanas de Campinas e de São Paulo vêm enfrentando uma quantidade crescente de novos casos de covid-19 e de internações hospitalares pela doença nas últimas duas semanas. Nossos hospitais estão cheios. Nossas UTIs quase lotadas. Continuamos com sérios problemas na testagem e muita subnotificação.
Mesmo com uma curva ascendente de novos casos em todo o estado, o governo do estado de São Paulo anunciou hoje um plano de relaxamento da quarentena. Classificou as regiões do estado em diferentes níveis de vigilância, com a possibilidade da reabertura imediata de vários setores em Campinas, na capital e em outras regiões do estado.
A Organização Mundial da Saúde é clara na definição dos critérios que podem permitir e orientar comunidades em processos de reabertura pós quarentena:
1. A transmissão da doença deve estar sob controle, com queda sustentada por um período razoável de tempo do número de novos casos.
2. O sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos e de rastrear todos os contatos de casos positivos.
3. O risco em lugares vulneráveis, como instituições de longa permanência, deve ser minimizado.
4. Escolas, ambientes de trabalho e outros serviços essenciais devem ter medidas preventivas bem estabelecidas.
5. O risco de importação de novos casos deve estar sob controle.
6. As comunidades devem estar plenamente educadas, engajadas e fortalecidas pra poderem viver um novo padrão de normalidade, com a adoção rigorosa de medidas de proteção.
Honestamente não vejo estas condições dadas. Considero um risco absurdo a reabertura, mesmo que parcial, de qualquer setor nesse momento. O sistema de saúde está próximo aos seus limites e o razoável a ser feito hoje seria intensificar e fiscalizar rigorosamente a adesão ao isolamento, seguir fortalecendo nossa capacidade de testagem, rastreamento e ampliação de leitos. Ao mesmo tempo, medidas de apoio econômico e social deveriam ser muito melhor instituídas.
Mas ao que tudo indica não é isso que vai acontecer. Temo imensamente pelas nossas vidas nesse momento.
Pedro Tourinho é médico sanitarista, professor universitário, vereador e presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campinas