Sétima arte

Nesse intenso agora: João Moreira Salles vai à Live do Conde

O cineasta tem no documentário uma ferramenta para sua curiosidade sobre as imagens advindas diretamente do mundo

Divulgação
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Uma das mais belas obras de Salles, o documentário pessoal-familiar Santiago (2007) traz uma forte autocrítica quanto à relação diretor-personagem

No ano de 2019, que já parece tão longínquo, João Moreira Salles passou cinco meses enfurnado no Norte do Brasil, apurando “a história de como a maior floresta tropical do planeta vem sendo percebida por aqueles que se relacionam com ela desde o século 16 até os dias de hoje”. O resultado dessa longa viagem e de dois anos de pesquisa vem sendo publicado numa série de reportagens da revista piauí, sob o título de Arrabalde

Salles, fundador e editor da revista e um dos maiores documentaristas brasileiros, percebia que a Amazônia seria o palco de uma peça trágica sobre o país. Então não imaginava que a pandemia da covid-19 iria tornar o cenário ainda mais devastador. A recente demissão do sinistro ministro Ricardo Salles não amenizou os temores que cercam o meio ambiente, os povos indígenas e a própria sobrevivência do planeta. 

Os achados e as reflexões de Salles, o João, sobre a Amazônia serão um dos assuntos da entrevista que ele dará neste domingo, às 20h, na Live do Conde. O acesso será por três canais do Youtube: Gustavo Conde, Rede TVT e Grupo Prerrogativas. Na condução da entrevista estaremos Conde e eu. 

Vamos exibir alguns trechos de filmagens que João realizou na Amazônia, além de cenas de filmes seus como Entreatos, Santiago No Intenso Agora. Trata-se de uma filmografia essencial para compreendermos não só os caminhos da grande política e das micropolíticas familiares, como também os procedimentos e os impasses de quem faz documentários – essa complexa tarefa de transformar o real em cinema. 

Cinema documental

João Moreira Salles tem no documentário uma ferramenta para sua curiosidade sobre as imagens advindas diretamente do mundo. Sua formação tem menos a ver com a cinefilia do que com o jornalismo e as leituras teóricas e científicas. Ele é um dos responsáveis pela criação do Instituto Serrapilheira, que financia e apoia a pesquisa e a divulgação científicas no Brasil. 

A cada filme João procura explorar um formato possível de documentário e, muitas vezes, colocar indagações sobre a própria natureza do cinema documental. 

O curta sobre Ana Cristina César, Poesia é Uma ou Duas Linhas e Atrás Uma Imensa Paisagem (1990), é um perfil de artista traçado no experimentalismo e na videoarte. Impulso semelhante anima Blues (1990), sobre a música-lamento afro-americana. Na minissérie Futebol, João e seu parceiro Arthur Fontes combinaram diferentes procedimentos documentais. Destaque para o episódio sobre Paulo César Caju nos moldes do cinema direto americano, o método mais utilizado e difundido teoricamente por João. 

O cinema direto, ou documentário observacional, predominou em Nelson Freire (2003) e Entreatos (2004), cada um problematizado pela natureza de seus personagens centrais. Já Notícias de uma Guerra Particular (1999) e O Vale (2000), feitos originalmente para a TV, se aferravam ao modelo do documentário de reportagem. Santiago (2007), por sua vez, afiliava-se ao documentário pessoal-familiar e veiculava uma autocrítica acerba quanto à relação diretor-personagem. No Intenso Agora (2017) trazia um João plenamente instalado no documentário ensaístico, ecoando seu apreço pelo cinema de Chris Marker e Harum Farocki. 

Quem já o ouviu sabe que é sempre um privilégio. Sua presença na Live do Conde tem tudo para ser uma grande atração.