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Medo e razão nas eleições: desvendando a balança da percepção pública

A engenharia estratégica por trás das campanhas eleitorais desempenha papel crucial no tabuleiro político, moldando não apenas a imagem dos candidatos, mas também a percepção do eleitorado

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Sergio Massa e Javier Milei vão disputar o segundo turno nas eleições da Argentina

Por Christian Jauch – Este artigo busca desvendar como o medo, utilizado como tática de desqualificação de adversários, muitas vezes se sobrepõe às razões racionais que deveriam nortear a escolha de um candidato em eleições. Além disso, mergulharemos em eventos contemporâneos e estudos que elucidam a crescente preferência por regimes autoritários na América Latina, bem como a interação entre estratégias eleitorais ancoradas no medo e na razão.

A sinfonia do medo

A orquestração do medo como estratégia eleitoral tem ecoado com mais intensidade em várias regiões do globo nos últimos anos. Candidatos e agrupamentos políticos têm navegado nas inquietudes populacionais, amplificando temores relacionados a adversários, bem como a questões socioeconômicas.

O panorama Latinobarómetro de 2023

Em julho de 2023, o prestigiado instituto chileno Latinobarómetro divulgou um relatório intitulado “A Recessão Democrática na América Latina”. Englobando pesquisas em 17 nações latino-americanas com um universo de mais de 19 mil entrevistados, o estudo evidenciou uma tendência alarmante: o declínio no apoio à democracia, apatia quanto ao tipo de regime e um incremento na inclinação para o autoritarismo. Notou-se um salto significativo na preferência por regimes autoritários na região, de 13% em 2020 para 17% em 2023.

A teia das eleições na Argentina

O cenário eleitoral argentino recente serve como um microcosmo do uso do medo como estratégia eleitoral. Nas eleições, o candidato de extrema-direita, Javier Milei, emergia como favorito nas pesquisas, contudo, o candidato Sergio Massa, situado em terceiro lugar, capitalizou o medo e a apreensão em relação ao líder nas pesquisas, explorando tais sentimentos para ganhar terreno. No primeiro turno, a estratégia resultou em um avanço significativo para Massa, evidenciando como o medo pode ser mobilizado eficazmente no âmbito eleitoral.

A resiliência democrática no Brasil

Na última eleição presidencial brasileira, ressurgiu o mantra “A esperança vai vencer o medo”, amplamente utilizado pelos segmentos de esquerda. Esse slogan reflete uma tentativa de contrapor a narrativa de medo com uma mensagem de esperança e resiliência, sublinhando a contínua batalha entre emoções e razão no palco político.

Reflexões sobre o delicado equilíbrio democrático

Tais manobras geram interrogações profundas sobre o delicado equilíbrio da democracia. O medo, embora uma ferramenta poderosa, quando utilizado de forma excessiva, pode corroer a confiança nas instituições democráticas. É imperativo fomentar um discurso informado e ancorar a racionalidade no cerne das escolhas eleitorais.

:: Sergio Massa e Javier Milei disputarão segundo turno da eleição presidencial da Argentina ::

Leitura complementar

Para uma análise mais pormenorizada sobre a fragilidade democrática, é sugerida a leitura do artigo “O Delicado Equilíbrio da Democracia: Uma Reflexão sobre a Fragilidade”, disponível no link fornecido. A democracia, um patrimônio valioso, demanda proteção contínua frente às estratégias eleitorais impulsionadas pelo medo e pela razão.

Conclusão

A instrumentalização do medo nas campanhas eleitorais é uma realidade contemporânea que demonstra a robustez da democracia. Estratégias eleitorais têm o poder de moldar não apenas os resultados das urnas, mas também a vitalidade das instituições democráticas. É fundamental que o eleitorado esteja cônscio dessas táticas, valorizando a racionalidade e o debate informado como pilares nas decisões eleitorais.


Christian Jauch é publicitário e atua como coordenador e estrategista em campanhas eleitorais. É cofundador da Alcateia Política (www.alcateiapolitica.com.br)