Alexandre Padilha

Já é hora de liberar o uso de máscaras?

Especialistas alertam que abandono de máscaras é precipitado. No momento. o país conta com apenas 45% da população imunizada com duas doses da vacina

Ricardo Wolffenbuttel / Governo de SC
Ricardo Wolffenbuttel / Governo de SC
"É esperado nas próximas semanas que os números se mostrem ainda maiores do que os presentes", afirma cientista

Algumas capitais do país – como São Paulo e Rio de Janeiro – anunciaram esta semana que estudam a possibilidade de flexibilização do uso de máscaras. Uma cidade fluminense já determinou o fim do uso. Mas, será que já estamos seguros para desobrigar o uso desse item que possui baixo custo e é comprovadamente eficaz na prevenção da covid-19? 

Com aproximadamente 45% da população brasileira imunizada com duas doses da vacina, especialistas alertam que essa é uma atitude precipitada e que deve ser a última medida a ser abolida. A possibilidade de liberação do uso de máscara só será segura quando tivermos mais controle sobre a pandemia e mais de 70% da população totalmente vacinada, com todas as doses.

A vacinação está caminhando para isso, apesar de estarmos extremamente atrasados na imunização graças a omissão do governo Bolsonaro que não comprou vacinas em tempo hábil. É importante lembrar que o Brasil possui um Programa Nacional de Imunização de excelência internacional e que tem total capacidade de vacinação em tempo adequado. Prova disso são nossas campanhas de imunização contra a gripe H1N1, em que já vacinamos mais de 80 milhões de brasileiros em apenas três meses.

Após quase dois anos de pandemia, o sentimento de busca pela liberdade é extremamente constante em nossa rotina e o desejo de olhar para outras pessoas sem este acessório  também, mas precisamos ser racionais e encarar a realidade que ainda atravessa o país. Temos 600 mil vidas perdidas em decorrência dessa doença tão traiçoeira. Vale lembrar que países do mundo, como os Estados Unidos, chegaram a flexibilizar o uso de máscara mas tiveram que retroceder na liberação em decorrência da alta transmissão da variante delta.

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Sempre defendi a reabertura das atividades nas cidades com critérios rigorosos, claros e seguros para a retomada gradual. Ainda no ano passado, apresentei na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2.430/20, que apelidei de “Protege Brasil. Ele é inspirado em experiências internacionais, que priorizam a proteção à vida como algo fundamental para essa previsibilidade da pandemia, assim como a transparência dos dados e a possibilidade do planejamento das ações.

É muito importante que neste momento ainda permaneçamos em alerta e utilizemos estratégias para não metermos os pés pelas mãos. Ainda não é tempo de liberação do uso de máscaras. Não podemos correr o risco de termos variantes resistentes às vacinas contra a covid-19 em circulação. O Brasil e o mundo precisam caminhar juntos no esforço de salvar vidas.


* Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi ministro da Coordenação Política de Lula, ministro da Saúde de Dilma e secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de São Paulo.