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Inovação em saúde respiratória assegura maior qualidade de vida diante de doenças crônicas

Os inaladores pressurizados associados a dispositivos como câmaras espaçadoras são a terapia de primeira escolha para doenças respiratórias, no entanto, ainda há desafios para a correta aplicação desses recursos para crianças e adolescentes

alvpics / Pixabay
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Além da emissão de gases poluentes por automóveis e indústrias, um fator que contribui para a poluição é a própria mudança climática

Infecções respiratórias e doenças pulmonares obstrutivas crônicas matam cerca de 6,4 milhões de pessoas por ano segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). É notória a crescente incidência e prevalência de quadros respiratórios em bebês e crianças atualmente nas grandes metrópoles. Isso se deve a fatores como: predisposição genética, contaminação viral e a fatores extrínsecos como a poluição atmosférica que atualmente é uma ameaça à saúde respiratória em todos os países, sobretudo em populações de países mais pobres. Em crianças por exemplo, ela pode comprometer o desenvolvimento pulmonar e predispor a uma maior fragilidade do sistema respiratório.

Além da emissão de gases poluentes por automóveis e indústrias, um fator que contribui para a poluição é a própria mudança climática. Fenômenos como o aumento das temperaturas e dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera fazem com que o pólen se acumule, agravando os casos de asma na infância. De acordo com a OMS, entre 11% e 14% das crianças com 5 anos ou mais sofrem os sintomas da doença e cerca de 44% dos casos estão relacionados a exposições ambientais insalubres.

De acordo com a Global Asthma Report, a Asma, uma doença inflamatória dos brônquios e que não tem cura, acomete 339 milhões de pessoas em todo o mundo com estimativa de esse número ser ainda maior podendo atingir a faixa de 400 milhões em 2025. Estima-se que no Brasil a prevalência média de asma ativa em adolescentes seja de 18,5%.

Em meados dos anos 50 surgiram as mais comumente conhecidas “bombinhas” que revolucionaram a intervenção medicamentosa mundialmente, prometendo tratar doenças respiratórias com ação local de corticoides e broncodilatadores tornando mais efetiva sua absorção. No entanto, a coordenação, gases propelentes tóxicos, dispersão acentuada de partículas surgiram como desafios a serem superados principalmente pela população pediátrica. Na década de 70, a fim de otimizar a entrega do aerossol as vias aéreas inferiores, foram desenvolvidas câmaras compostas de um reservatório tubular que quando colocado entre a boca do paciente e o inalador pressurizado dosimetrado promoviam a retenção do aerossol até a inalação do indivíduo permitindo a inalação das partículas do fármaco com maior efetividade aumentando em até 2x a deposição pulmonar.

Qualidade de vida

O tratamento agudo e crônico preventivo por meio da terapia inalatória de fármacos, pode melhorar significativamente a vida de crianças e adolescentes que sofrem com essas desordens. Os inaladores pressurizados associados a dispositivos como câmaras espaçadoras são a terapia de primeira escolha segundo a Iniciativa Global para Asma (GINA, 2021). No entanto, em pleno século 21 existem grandes desafios relacionados a sua adesão, monitoramento e forma correta de utilização, implicando em recorrente ineficácia de controle de crises além de efeitos adversos relacionados a terapia realizada de maneira incorreta.

A simples manutenção do dispositivo espaçador inalatório é capaz de influenciar no seu correto funcionamento. Contaminações bacterianas por Klebisiella Pneumoniae e Staphylococcus Aureus foi detectada em 35% de espaçadores de crianças asmáticas, segundo artigo publicado na European Respiratory Journal por Vincken e colaboradores, no ano de 2018. Outro estudo realizado no Brasil, pelo pneumologista Dr. Fábio Muchão, demonstra que o conhecimento teórico prático de profissionais de saúde do Hospital da Criança no estado de São Paulo a respeito do uso de inaladores pressurizados mostrou ser heterogêneo. Médicos residentes, fisioterapeutas e médicos assistentes obtiveram desempenho significativamente melhor que enfermeiros e auxiliares de enfermagem sendo que estes últimos estão diretamente envolvidos na aplicação prática desses dispositivos na rotina hospitalar.

Estudos preliminares com pais e mães na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) vêm demonstrando que o conhecimento ainda não é consistente o suficiente para garantir plena confiança e segurança na sua aplicação. 

Dificuldades para administrar o tratamento

A emancipação feminina e a sua inserção no mercado de trabalho trouxeram uma menor presença no ambiente domiciliar e consequentemente uma maior permanência de crianças por períodos mais longos dentro das escolas. Com essa distância mães relatam dificuldades em sequenciar o tratamento inalatório de seus filhos quando em fase de agudização, contando com profissionais inseridos no ambiente escolar para a realização e acompanhamento do tratamento, o que proporciona uma melhora no sentimento de cuidado inerente a mães, porém ainda distante de se tornar globalizado. Segundo uma pesquisa da ISMA-BR, International Stress Management Association no Brasil, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional de mulheres mostra que é grande o número de pessoas que negligenciam a vida pessoal, porque se dedicam mais à profissional por medo de demissão ou de ficar para trás em promoções.

Letícia de 39 anos, uma mãe residente no ABC Paulista e mãe de doente respiratório crônico relata ter tido a uma reunião com professoras e cuidadores da escola para orientar a realização da terapia inalatória no turno escolar. “Atualmente me sinto mais segura, mas ainda preciso encaminhar as receitas e relatar a situação de crise quando ela aparece”. “Hoje em dia, a própria escola consegue identificar quando uma crise dele está no início” – complementa.

Tendo em vista este cenário, e outros tantos, fica clara a necessidade de auxiliar não tão somente crianças, bebês e adolescentes em todo o processo da terapia inalatória mas profissionais de saúde e principalmente mães e pais, ou seus tutores utilizando a inovação e recursos tecnológicos para promover além de curadoria do conhecimento, maior acesso, autonomia e controle da sua doença e seu tratamento, melhorando assim a esperança dessas famílias em poder atingir sonhos, sentindo-se mais seguros em relação a sua saúde.

Inovação em saúde respiratória

A inovação pode se tornar o grande impulso na melhora da vida de famílias que convivem com as doenças respiratórias em suas vidas. Em revisão recente a respeito, sobre esse tipo de tecnologia no mundo, parece haver evidências de que o uso de inaladores inteligentes está associado a um aumento substancial na adesão a terapia. Este efeito tem sido observado em populações pediátricas e em adultos, nos cuidados primários e secundários, na asma e nas doenças pulmonares obstrutivas crônicas, em países desenvolvidos que já se mobilizam para melhorar este setor.

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A GetinOxy, uma startup de saúde, surgiu decorrente da necessidade de uma das fundadoras, fisioterapeuta especialista na área e mãe de asmáticos, em buscar soluções para alívio dessas dores acreditando que melhorar o conhecimento, organizar e integrar a criança no próprio tratamento, possa gerar maior sucesso no controle dessas doenças. Recentemente incubada no Hub Inova da USCS, a Startup trabalha em uma aplicação que promete de maneira inteligente e interativa melhorar adesão, prevenir a evolução para gravidade e por consequência tangibilizar a redução do estresse, promover bem-estar, atualizar e motivar seus usuários além de melhorar a percepção de qualidade de vida.


Claudia Tavares Alvarenga é fisioterapeuta e CEO da GetinOxy, startup instalada no hub de inovação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)