Desmonte

João Cayres: Guedes, enfim, vai criar empregos. No exterior

Depois da mãozinha da Lava Jato, que dizimou grandes empresas brasileiras, agora abre compras públicas empresas estrangeiras para liquidar indústria nacional

reprodução/TVT
reprodução/TVT
Nenhuma empreiteira brasileira participou do leilão para a construção da ponte Salvador–Ilha de Itaparica

São Paulo – Em sua passagem por Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o Brasil abrir as licitações públicas às empresas estrangeiras. Na última terça-feira (21), ele confirmou que o governo pedirá formalmente sua adesão ao Acordo de Compras Governamentais. No dia seguinte, a proposta foi endossada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Com o acordo, segundo a equipe econômica, as empresas brasileiras teriam acesso a um mercado de cerca de 1,7 trilhão de dólares por ano em países como Estados Unidos, China, Japão, Austrália e Canadá, dentre 28 nações. Contudo, as empresas desses países passariam a receber isonomia de tratamento para participarem das licitações e compras governamentais aqui no Brasil.

Para o secretário-geral da CUT de São Paulo, João Cayres, comentarista político da Seu Jornal, da TVT, o plano de Guedes e Bolsonaro vai servir para criar empregos no exterior, na medida em que as principais empresas brasileiras do setor naval e da construção pesada, por exemplo, foram praticamente destruídas pela Lava Jato. Ele cita como exemplo o leilão realizado em dezembro para a construção da ponte Salvador–Ilha de Itaparica, na Bahia, vencido por um consórcio formado por três empresas chinesas. As estrangeira ainda não contam com o tratamento isonômico, mas nenhuma empreiteira brasileira participou da disputa da obra com investimento previsto de R$ 5,4 bilhões.

“A operação Lava Jato trabalhou para privilegiar empresas estrangeiras. As nossas empresas praticamente quebraram. A Odebrecht demitiu dois terços da sua mão de obra. Chegou a atuar em 27 países. Encolheu bastante. Inclusive, em licitação na Bahia, para a construção de uma ponte, ligando Salvador à Ilha de Itaparica, ocorreu sem a participação de nenhuma empresa nacional. Empresas estrangeiras estão ganhando e gerando empregos no exterior”, afirmou Cayres nesta sexta-feira (24).

Na contramão da proposta liberalizante de Bolsonaro e Guedes, o comentarista destacou os avanços da política de conteúdo nacional desenvolvida pela Petrobras durante os governos Lula e Dilma, responsável pela criação de milhares de empregos na indústria naval principalmente.

“Em 2002, a gente tinha cerca de 2.600 pessoas trabalhando na indústria naval. Foi com a mudança durante o governo Lula, que obrigou a Petrobras a fabricar sondas e navios aqui no Brasil, contratando empresas nacionais, é que a gente saiu desse patamar para quase 100 mil trabalhadores na indústria naval. Como pode um país tão rico em recursos hídricos, rios que não acabam mais, costa de 5.500 quilômetros, e a gente não fabricava nem um barquinho de lata? Importava de Cingapura, da Coreia”, comentou.

Ele instou as federais estaduais da indústria – como a Fiesp, Fierg, Fierj –, além da própria Confederação Nacional das Indústrias, a se posicionarem contra essa abertura indiscriminada do mercado brasileiro. “Não vão falar nada? Vamos entregar 12,5% do PIB em recursos que poderiam fazer crescer a nossa economia nas mãos estrangeiros? Ou seja, Paulo Guedes está representando muito bem os interesses estrangeiros. Em vem de gerar empregos no Brasil, vai gerar empregos no exterior.”