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Excelência do Hospital Pérola Byington está em perigo

Entrega pelo governador João Doria de obras e gestão de novo hospital ao setor privado ameaça a tradição de uma instituição que é referência para a saúde da mulher na cidade de São Paulo

Reprodução / Governo SP
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Projeto prometido para 2013 teve suas obras iniciadas apenas em 2019: obras custeadas com dinheiro público e entregues para o setor privado explorar economicamente

Desde o início da pandemia, João Doria tenta capitalizar politicamente com a área da Saúde para fortalecer seu ‘currículo eleitoral’. Dentre tantas obras prometidas para 2022 e que pertencem ao balcão de negócios do governador, está o novo prédio do Hospital Pérola Byington, conhecido Centro de Referência da Saúde de Mulher da cidade de São Paulo, que sairá do Bairro Bela Vista para a região da Nova Luz.

O novo Pérola é promessa antiga dos governos tucanos, assim como os problemas que envolvem a sua construção e futura gestão, que colocam em risco a história de mais de 60 anos de excelência em atendimento às mulheres.

Prometida em 2013, a unidade deveria ter começado a ser construída em 2014 e concluída em 2017, mas o início das obras se deu apenas em 2019, já com João Doria à frente do Palácio dos Bandeirantes. Há décadas, a população paulista paga caro em decorrência dos atrasos nas execuções das obras realizadas no estado pelos governos do PSDB.

Outra situação recorrente, são as obras custeadas com dinheiro público e entregues para o setor privado explorar economicamente depois de finalizadas. Um exemplo clássico são os pedágios, em que as concessionárias recebem as rodovias modernizadas para explorar e cobrar do cidadão ‘pelo serviço prestado’.

Há ainda o pagamento indireto, quando por meio dos impostos recolhidos de todos nós, o Estado contrata empresas para gerenciamento de serviço que poderia ser realizado diretamente pela administração pública. 

A empresa fará a gestão do hospital por 20 anos e ficará responsável pela compra de equipamentos, manutenção e atualização tecnológica.  O gerenciamento do corpo técnico (equipe médica, enfermagem, entre outros) será feito por uma OSS (Organização Social de Saúde), ainda não definida pelo Estado.

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Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, SindSaúde-SP, esta situação tem provocado muitas incertezas entre os servidores, pois, embora a direção do hospital afirme que os funcionários irão para o novo prédio – a mudança acontece de maneira gradual a partir de 1º de julho deste ano – o futuro é incerto. Além disso, os trabalhadores têm sofrido sistematicamente assédio moral da direção, levando muitos a adoecer e a pedir exoneração.

É evidente que para a política de estado mínimo do governo Doria, que é obrigado por lei a prestar o serviço público, mas, por princípio, prefere entregá-lo para a iniciativa privada, não é interessante ter servidores concursados na unidade. Eles sabem a importância do SUS, cobram condições de trabalho e qualidade de atendimento, ao contrário de um trabalhador contratado por uma empresa cuja lógica é o lucro, que poderá sofrer punições caso faça alguma denúncia.

Continuaremos vigilantes para que os trabalhadores da saúde, as mulheres que dependem do atendimento e a história de excelência do Pérola sejam respeitados.


Felipe L. Gonçalves/Brasil247

Luiz Claudio Marcolino é ativista social, economista, bancário, dirigente sindical e ocupa a vice-presidência da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo. Foi deputado estadual (2011-2014), diretor técnico da Agência São Paulo de Desenvolvimento (ADESAMPA), Superintendente Regional do Trabalho e Presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

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