Ariovaldo Ramos

Está sendo dito que o PT procura diálogo com o ‘centro’ contrário a Bolsonaro. Mas…

Não há dúvida: derrubar o protofascismo é essencial. Mas quem abre mão de valores para conquistar o que for pode acabar, de fato, conquistado

Pixabay
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Está sendo dito que o PT está procurando conversar com o centro que é contra o governo federal vigente. Inclusive, está sendo dito que já há quem sugira uma chapa que relembre a dupla Lula/Alencar. O objetivo parece ser a construção de um esforço abrangente para derrotar a extrema direita, representada pelo governo em curso.

Em princípio, conversar é próprio de democratas. E, consequentemente, é o apropriado numa democracia ou na tentativa de construir uma democracia, como, cada vez mais, parece ser o caso do Brasil. Entretanto, é necessário que seja compreendido que o diálogo só é possível entre sujeitos autênticos. Isto é, que têm, respectivamente, plena consciência de sua identidade e de seu lugar de fala.

Logo, é de absoluta importância que o partido, independentemente de com quem fale, tenha claríssimo que é o Partido dos Trabalhadores, e que é, assim, do lugar dos direitos dos trabalhadores que fala. A retomada dos direitos dos trabalhadores deve ser considerada como prioridade máxima, sob pena de perda de autoridade por parte de quem os diz representar.

Não há dúvida de que derrubar esse protofascismo é essencial. Contudo, quem abre mão de seus valores para conquistar seja o que for, mesmo que aparentemente o conquiste, terá sido, de fato, conquistado.

Luta de classes

A consciência da luta de classes num país de passado e de presente escravistas gera contornos especiais e exclusivos, que nenhuma teoria geral é capaz de abarcar, principalmente por causa da inevitável questão do racismo estrutural. 

E se tudo isso vier embrulhado com religiões em choque, o quadro fica muito mais denso, e não é preciso dizer que esse é o quadro a que assistimos no país.

Não pode ser esquecido, também, que o regime que estamos enfrentando se sustenta num acordo escravista de classe. Um acordo que envolve os militares, os magistrados e os capitalistas/financistas. E que esses setores sustentam a maior parte dos membros do Legislativo e que, para pasmo geral, por meio da religião, cooptou os escravizados.

Que a conversa alcance todo o possível, mas sem pôr em risco o que tem de ser tido como de impossível concessão.

RBA

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