Polos opostos

Dois diagnósticos, dois programas, dois candidatos

Duas propostas antagônicas se enfrentam no segundo turno. Uma quer voltar ao modelo elitista e de exclusão social. A outra é de continuidade ao maior processo de democratização social que o Brasil já viveu

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Reduzir a desigualdade, ou ampliar o mercado de luxo. Nesta eleição, dois projetos distintos em disputa

Armínio Fraga, guru econômico do Aécio e provável comandante da política econômica, se ele triunfar, não deixa duvidas, ao afirmar que “o salário mínimo alto” seria um freio para que se aumentem os investimentos. É o esquema tradicional, adotado pelas elites dominantes, desde a ditadura. O golpe foi acompanhado, imediatamente, do arrocho salarial, com os mesmos argumentos de Armínio Fraga: eram as campanhas salariais, os aumentos de salário, que brecavam a expansão da economia e causavam inflação. O arrocho foi o santo do “milagre”: intensificou a exploração dos trabalhadores, a concentração de renda, o desemprego.

Exatamente o que prega a candidatura do Aécio. Querem que a economia volte a crescer baseada na exportação e no consumo de luxo das altas esferas do mercado. Optam pela concentração de renda para expandir o mercado de consumo de luxo. A distribuição de renda não é funcional a esse projeto, que privilegia o consumo de bens sofisticados.

Estão frontalmente contrários à distribuição de renda levada a cabo pelos governos Lula e Dilma, que fez com que as demandas de consumo dos setores populares, até ali sempre excluídos, puxassem a expansão econômica. Mas são, antes de tudo bens de consumo básicos, a que essas camadas não tinham acesso anteriormente.

A contradição que paralisa a economia brasileira é a resistência de parte do grande empresariado a se adequar ao gigantesco processo de distribuição de renda e de expansão do mercado interno de consumo popular. Sabota esse processo, canalizando seus capitais para a especulação financeira, para os investimentos em produtos de consumo da alta esfera do mercado e para os paraísos fiscais.

Promovem a estagnação econômica e, com isso, se valem da circunstância para culpar o governo pela recessão. Quando o governo fez uma enorme quantidade de concessões ao grande empresariado privado – entre subvenções, diminuição de impostos, créditos públicos – sem contrapartidas, não teve retornos. O grande empresariado embolsou as vantagens e não devolveu nada à sociedade, seguiu seu caminho de sabotagem à política econômica do governo.

O poder privado do capital tornou-se arma política da oposição para tentar recuperar o governo do país, de que desfrutou sempre, sob ditaduras ou governos neoliberais, nas ultimas décadas. Não se resigna com incluir milhões de brasileiros, que passaram a ter acesso a bens fundamentais, que antes lhes eram negados. Os grandes empresários privados desejam retornar ao tempo em que resolviam a realização dos seus interesses por telefone, com as autoridades econômicas que eles mesmos tinham nomeado.

O diagnóstico da campanha do Aécio criminaliza a elevação da renda do trabalho, a começar pelo salário mínimo, e promete um duro “ajuste” não apenas das contas do Estado, mas uma retomada do arrocho salarial com objetivo de conduzir o país de volta a um novo ciclo econômico voltado para o consumo de luxo, exportações e predomínio dos interesses do mercado. O diagnostico da era Lula e Dilma localiza nas tendências especulativas e não produtivas do grande capital privado o fator de bloqueio do crescimento com criação de empregos e distribuição de renda.

O primeiro quer voltar ao modelo elitista e de exclusão social. O segundo, dar continuidade ao maior processo de democratização social que o Brasil já viveu.