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Depois de década virtuosa, América Latina precisa de nova onda de desenvolvimento

'Se deve governar para todos, para se tornarem governos hegemônicos, mas nunca devem atuar em detrimento dos setores populares', diz Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia

arquivo/gob.venezuela

Linera: ‘É o fim da primeira onda, mas outras virão’

“É o fim da primeira onda, mas outras virão, mais profundas e mais extensas, na América Latina”, diz Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia.

Não há como negar que a América Latina vive um momento difícil. Depois de uma década, pelo menos – virtuosa, em que teve, em alguns dos seus países – ele se referia a Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia e Equador – momentos fundamentais na sua história, com crescimento econômico e distribuição de renda, com soberania política e integração regional, em vários desses países há rupturas ou ameaças à continuidade dessas políticas.

As declarações de Álvaro, extraordinário intelectual e dirigente político latino-americano, foram feitas em mesa redonda convocada pela Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), realizada na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, da qual eu tive a possibilidade de participar. Para Álvaro, a ofensiva da direita da região não é uma novidade, ela nunca se resignou a ser minoria e ser derrotada nesses países, sempre buscou derrubar esses governos, da forma que fosse.

Mas essas ofensivas, desta vez, conseguem resultados por erros cometidos pelos governos desses países, de alguns ou de vários deles, que ele mencionou. O primeiro, segundo Álvaro, é o caráter indispensável de um política econômica que funcione, que permita a continuidade do crescimento da economia, que satisfaça as necessidades básicas da população, que projete uma perspectiva otimista sobre o futuro do país. Álvaro cita sempre Lenin, segundo o qual, “a política é a economia concentrada”, para ressaltar a importância decisiva desse nível para o sucesso de um governo.

O segundo erro em que podem estar incorrendo alguns dos governos da região é o de desenvolver políticas econômicas que prejudiquem os interesses dos setores populares, os de apoio fundamental desses governos. Se deve governar para todos, para se tornarem governos hegemônicos, mas nunca devem atuar em detrimento dos setores populares.

Em terceiro lugar, Álvaro mencionou o risco de promover políticas sociais sem, ao mesmo tempo, desenvolver consciência política nos setores beneficiários dessas políticas. Em quarto, a ausência da formação democrática da opinião publica, que permita a formação de um sentido comum que represente os valores democráticos da maioria da população. Esta é condição da consolidação irreversível desses processos, conforme esses valores se difundam, assumidos pelos mais amplos setores populares de cada país.

Álvaro considera que o que se termina é a primeira onda de um processo histórico que representa o futuro da América Latina, enquanto a direita, não tendo nada de novo a propor, representa o passado, um passado derrotado e fracassado. São tempos difíceis, em que a consciência da situação, especialmente dos erros cometidos, são essências para recuperar a forca que permitirá o surgimento de uma segunda onda, mais extensa e mais profunda do que a primeira.