Capa e edição ameaçadoras, reportagem quase favorável

Capa anuncia revelações ruins para a candidata; edição ecoa a ameaça, mas texto vai em outra direção (Foto:Reprodução) A reportagem de capa da revista Época desta semana traz “O passado […]

Capa anuncia revelações ruins para a candidata; edição ecoa a ameaça, mas texto vai em outra direção (Foto:Reprodução)

A reportagem de capa da revista Época desta semana traz “O passado de Dilma” em destaque. A capa com ares de ficha policial anuncia um levantamento sobre a ação da candidata governista à Presidência da República durante a ditadura militar. Arquivos da Justiça Militar e do Departamento de Ordem Política e Social (Deops) sobre depoimentos e processos sobre Dilma Rousseff são descritos. Em outra matéria, os depoimentos dos colegas de prisão.

Nas duas reportagens, Dilma é apresentada como uma pessoa com grande capacidade intelectual e de liderança, mesmo apesar de ter ingressado na militância contra a ditadura ainda muito jovem. Apesar da origem estudantil, era respeitada por outros militantes de organizações armadas ou não. Nenhum documento informa sobre posse de armas de fogo nem participação direta em assaltos a banco ou outras ações armadas.

Já a edição de arte e a seleção de quadros para o texto, mostram outra história. Além das fichas policiais e documentos que colocam a ex-ministra-chefe da Casa Civil como procurada, há uma lista de “perguntas não respondidas” por Dilma, envolvendo treinamento e posse de armas no momento de sua prisão, entre outras questões. Na hora de destacar o depoimento de seus colegas de prisão, o que vai para um destaque é a informação de que Dilma não era prendada na cozinha.

Uma matéria que indica que não se confirmam as ilações elencadas em e-mails e cartas apócrifas que circulam há meses pintando um histórico tenebroso para a candidata. No entanto, a capa e os trechos destacados indicam mais ou menos o oposto.

Mais gente que lê apenas a capa do que folheia a revista. Mais gente folheia a revista do que lê as reportagens na íntegra. Por isso a edição costuma selecionar o que houver de mais importante no conteúdo de suas matérias, normalmente para atrair o leitor ao passo seguinte. Quando esse “filé” destacado para o leitor não está nos fatos mencionados na reportagem, fica estranho.