central américa

A disputa pelo centro do mundo

No âmbito da Unasul será criada a cidadania sul-americana, não apenas com passaporte próprio para todos os habitantes da região, mas com efeitos diretos na vida dos imigrantes, dos estudantes e trabalhadores

governo do equador/reprodução

Sede da Unasul erguida em Metade do Mundo, sobre a linha do Equador

Conversando uma vez com uns norte-americanos nos EUA, o escritor e jornalista Eduardo Galeano conta que lhe perguntaram de onde era ele. Pareceu-lhe bastante complicado explicar que era do Uruguai, então se aproveitou que a Nicarágua estava no olho do furação, e lhes respondeu: Central América.

A cara de perplexidade deles foi enorme. É que para eles Central América é Kansas ou Massachussets ou Missouri, o centro da América. A América Central não existe para eles.

Agora as coisas podem ficar um pouco mais confusas ainda para eles. É que a belíssima sede da Unasul, inaugurada esta semana no Equador, foi construída numa cidade que se chama Metade do Mundo, perto de Quito, exatamente sobre a Linha do Equador, daí o nome. E pretende disputar a ideia de qual é o centro do mundo. Que, para os norte-americanos, evidentemente é Wall Street.

A inauguração do imponente edifício de Unasul, próximo de Quito, foi um momento importante para que os presidentes sul-americanos pudessem retomar o diálogo sobre o processo de integração regional e, ao mesmo tempo, expressar suas maiores preocupações.

Puderam recordar que a Unasul foi formada no momento em que se desencadeava a crise econômica internacional e que naquele momento se anunciaram medidas de proteção coletiva diante dos efeitos recessivos que chegavam do centro do capitalismo. Depois cada país buscou se defender da sua maneira, conseguindo resistir desde então, sem entrar em recessão, mas os efeitos negativos do centro do sistema seguem agindo sobre nossas economias.

Dilma ressaltou como a baixa dos preços do petróleo se soma à das commodities, pressionando para baixo as possibilidades de crescimento de nossas economias, enquanto os sinais de recuperação dos países centrais são desencorajadores. Unasul, na sua nova fase, pode vir a ocupar um papel importante no apoio comum às nossas economias.

A retomada do Banco do Sul está entre as decisões que vão nessa direção, ainda mais se se soma às decisões tomadas pelos Brics na reunião deste ano em Fortaleza. Depois de superar impasses, o Banco do Sul terá uma reunião decisiva na próxima semana, em Caracas, quando serão formalizadas as autoridades das distintas instâncias do banco, o que permitirá que ele comece finalmente a funcionar.

Mas não é nesse plano que a Unasul pretende disputar lugar no espaço da geopolítica mundial. Foram aprovadas a Escola Sul-americana de Defesa, que fará com que os militares do continente deixem de ser formados pelos EUA na Escola das Américas, para o serem numa nova doutrina de segurança, a ser elaborada por essa escola.

Será criada a cidadania sul-americana, não apenas com passaporte próprio para todos os habitantes da região, mas com efeitos diretos na vida dos imigrantes, dos estudantes, dos trabalhadores comuns, nos planos da pesquisa, da tecnologia, da educação, entre outros.

Contando com quase 500 milhões de habitantes, a Unasul se orgulha também que, com a finalização do processo de paz na Colômbia, se tornará plenamente uma zona de paz, um caso raro num mundo assolado cada vez mais por focos de guerra.

A pretensão da Unasul é, assim, passar de ter sua sede no centro geográfico do mundo, chegar a ser um centro político do mundo, disputando espaço num mundo cada vez mais multipolar.