Populista

‘Projetos fake’ de Tarcísio na Infraestrutura iludem eleitor desatento de São Paulo

O fracasso das ferrovias de papel e do ‘leilão relâmpago’ de Santos comprovam que iniciativas populistas tem um custo altíssimo. Não podemos aceitar mais uma martelada nos dedos da sociedade

Marcelo Camargo/ABR
Marcelo Camargo/ABR

Por Luiz Alberto Fioravante*

Desde que lançou sua candidatura ao governo de São Paulo, em abril, Tarcísio de Freitas brada aos quatro cantos que é uma referência nacional em projetos que estão transformando a logística do país. Usando como mote da sua campanha os “programas” que liderou enquanto ministro da Infraestrutura e homem de confiança do presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro enaltece os martelos que bateu para “projetos de papel” que iludem o eleitor desatento às artimanhas do candidato do Republicanos. Nos bastidores de Brasília, o Ministério da Infraestrutura segue fomentando uma agenda de projetos fake em uma tentativa desastrada de salvar a reputação de seu ex-ministro. 

O grande case de ilusão é o Pró-Trilhos, anunciado com toda a pompa em setembro de 2021 prometendo investimentos bilionários. Até agora não há nenhuma garantia legal que as 27 ferrovias autorizadas que somariam mais de 133,2 bilhões de reais saiam do papel. 

Não bastasse a ineficiência dessa iniciativa, a edição da Nova Lei de Ferrovias (Lei n. 14.273/21) reforçou a cortina de fumaça de Tarcísio. Foram vetados os dispositivos que obrigavam a comprovação de capacidade financeira ou a demonstração de viabilidade dos projetos ferroviários. 

A prova cabal de que a teoria está distante da realidade dos investimentos prometidos foi admitida indiretamente pela Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER). A entidade afirmou que o setor industrial está parado. Não há encomendas pelos operadores de carga e de passageiros para os próximos anos no país, o que faz a ociosidade na fabricação de locomotivas e vagões chegar próximo de 100%.

Ou seja, tudo que foi feito até aqui não passa de uma articulação orquestrada apenas para criar eventos, aplausos e fotos fabricadas para a campanha política do candidato ao Governo do Estado de São Paulo.

Um dos casos mais emblemáticos do teatro eleitoral de Tarcísio foi o constrangedor leilão do Terminal Portuário STS11, em março deste ano. Diferentemente de todos os demais casos de licitação, um dos ativos mais estratégicos do Porto de Santos foi licitado em apenas 15 dias úteis.

O compromisso era colocar o ex-ministro “batendo o martelo” em seu último dia no cargo federal. O resultado? Um único participante, pagando um valor ínfimo de 10 milhões de reais por 25 anos de contrato em um dos maiores terminais de granéis sólidos do Brasil.

Agora, a última cartada de Tarcísio para tentar alavancar mais votos em São Paulo é a renovação antecipada do contrato da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) por mais 30 anos. Seguindo a lógica de bater martelo a qualquer custo, o Ministério da Infraestrutura corre contra o tempo para apresentar ao Tribunal de Contas da União (TCU) a renovação antecipada da concessão.

No entanto, o projeto é sinônimo de retrocesso. Com estudos defasados (elaborados em 2016), prevê mais devoluções de trechos do que investimentos e não teve até o momento nenhuma audiência pública presencial.

É inadmissível que seja aprovada no “apagar das luzes” a renovação de uma ferrovia com mais de 7 mil quilômetros de extensão e que integra os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Distrito Federal, Bahia e Sergipe.

O fracasso das “ferrovias de papel” e do “leilão relâmpago” de Santos comprovam que iniciativas populistas têm um custo altíssimo pelos impactos negativos na infraestrutura. Não podemos aceitar mais uma martelada nos dedos da sociedade por mera fumaça de campanha. As audiências públicas da FCA são necessárias para corrigir a rota enquanto ainda há tempo.

Publicado originalmente na CartaCapital

*Luiz Alberto Fioravante, ex-diretor do Metrô de São Paulo, é especialista em logística e infraestrutura