Boaventura havia advertido sobre apropriação do Bolsa Família em tempos de eleição por tucanos

PSDB tenta aprovar no Congresso projeto que aumenta base de beneficiários do programa; Antes disso, pensador português havia pontuado que governos progressistas precisam propor ruptura com atual modelo

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos considera que a radicalização da democracia é a arma que tem a esquerda atualmente para evitar que a direita se aproprie das boas ideias (Foto: CUT)

A notícia de que o PSDB tenta aprovar no Congresso um projeto que amplia o universo de beneficiários do Bolsa Família remete imediatamente à lúcida fala do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos durante a primeira semana de Fórum Social Mundial em 2010, em Porto Alegre.

Na ocasião, ainda não estava em foco o projeto do senador Tasso Jereissatti (PSDB – CE), aprovado na Comissão de Educação do Senado, prevendo o pagamento de um adicional aos alunos beneficiários de Bolsa Família que tenham bom desempenho na escola.

Antes que se passe à fala do professor, registre-se o que disse a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, nesta terça-feira (9) sobre a proposta tucana: “Tudo o que vier de bom para a população a gente tem de acatar. Agora, para a gente ter cuidado com qualquer medida que seja simplesmente eleitoreira, a gente tem sempre que perguntar: e a fonte de recursos? Como é que se banca? Porque senão vão começar a sair por aí fazendo toda espécie de benefício num momento eleitoral para a população e não dizendo aonde a gente tira o dinheiro para cumprir”.

Retornando à fala de Boaventura, nesse último janeiro o português falou sobre a facilidade de a direita aprender rapidamente com os acertos da esquerda, e pontuou que a eleição do Chile parecia o primeiro sinal negativo de uma década que pode marcar retrocessos para os sul-americanos. Em seguida, ele pontuou que os governos progressistas da região, Brasil incluído, tinham como base as políticas de transferência de renda, e isso não era suficiente.

“Eu fui um dos primeiros a apoiar este governo pelo Bolsa Família. Mas é extremamente limitado porque distribui lá embaixo, mas não mexe nos mecanismos que criam injustiça social e que criam empobrecimento”, apontou, para em seguida manifestar preocupação: “A direita vai apropriar-se dessas políticas. Estou seguro que o candidato de direita aqui no Brasil vai dizer que, se for presidente, vai manter o Bolsa Família. Não tenho dúvidas. Porque as transferências de rendimento não colocam em causa o ganho econômico (…) O que eles querem é a democracia irrelevante. Os governos progressistas precisam colocar em movimento um outro modelo civilizacional, uma nova forma de política”.