Um relatório (da OCDE), diferentes pesos e manchetes

Este artigo foi publicado originalmente na página de Carta Maior A referência deste artigo está nas sucessivas manchetes da nossa velha mídia sobre o nosso “fraco” PIB. Essas manchetes sempre […]

Este artigo foi publicado originalmente na página de Carta Maior

A referência deste artigo está nas sucessivas manchetes da nossa velha mídia sobre o nosso “fraco” PIB. Essas manchetes sempre destacam a comparação com os emergentes BRICS, e partem do relatório da Organização para a Cooperação e o para o Crescimento Econômico e o Desenvolvimento (OCDE), sobre o estado da arte no mundo e no Brasil. Lá já começara o destaque de que nosso PIB era pequeno, etc. Entretanto esse destaque deixou de lado aspectos muito relevantes do próprio relatório, que agora desembocam na questão do que vai pelo nosso Produto Interno Bruto (ver considerações do nosso companheiro Marcio Pochmann nesta página).

Não esqueçamos que o relatório segue, como seria óbvio esperar, um “design” completamente liberal para discutir a economia mundial – e a nossa brasileira também. Apesar disso, ele é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” naquela direção do liberalismo econômico. Deixei o texto original em inglês, devido à complexidade da terminologia técnica, e ofereço abaixo uma tentativa de tradução. Cito também, no original, a tabela de indicadores econômicos oferecida pelo relatório, em que se prevê uma retomada do crescimento numa taixa de 4 % ao ano, a partir do ano que vem. 

“The effects of strong monetary and fiscal stimulus are gradually lifting the economy out of below-trend growth. Forward-looking confidence indicators look promising and unemployment is low. Inflation has declined and stabilised, albeit somewhat above the midpoint of the target range. 

Growth is projected to pick up to about potential rates as stronger global growth, the depreciated real and recent measures to address the supply-side factors behind weak performance benefit investment and exports. Growth would be supported by further reducing the tax burden and tax complexity, containing labour costs, deepening long-term financial markets and improving infrastructure. The recently adopted trade protection measures, in contrast, could slow down productivity growth.”

[Os efeitos de estímulos monetários e fiscais robustos estão levantando gradualmente a economia de uma tendência a ficar num nível abaixo do esperado. Os indicadores de uma confiança quando se olha o futuro parecem promissores e o desemprego é baixo. A inflação caiu e se estabilizou, embora um pouco acima da média almejada.

Projeta-se uma elevação do crescimento até uma taxa potencialmente tão robusta quanto a do crescimento global, o real desvalorizado e medidas recentes dirigidas a fatores de insumo que estão por trás de um desempenho fraco beneficiam o investimento e a exportação. O crescimento seria favorecido por uma maior redução do peso e da complexidade dos impostos, da contenção do custo do trabalho, do aprofundamento dos mercados financeiros de longo prazo e da melhora na infra-estrutura. As recentes medidas de proteção comercial, no entanto, podem retardar o crescimento da produtividade]. 

A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se um crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. Os respectivos números para estes anos são, conforme o país abordado:

Japão, 0,7% e 0,8%; Zona do Euro, – 0,1% e + 1,3%; Alemanha, 0,5% e 2%, mas com crescimento do desemprego em 2013; Reino Unido, 1,1% e 1,8%; Estados Unidos, em que o relatório afirma estar a economia e a taxa de emprego em recuperação lenta, 2,2% e 3,2%; França, 0,3% e 1,3%.

Enfim, os dados completos do relatório podem ser consultados na página da OCDE

A posição favorável do Brasil fica mais evidente ainda levando-se em conta o comentário do Secretário Geral da Organização, Ángel Gurría: “Os governos devem atuar decisivamente, usando todos os meios à sua disposição para reerguer a confiança e dar impulso ao crescimento nos Estados Unidos, na Europa e em toda a parte” (“Governments must act decisively using all the tools at their disposal to turn confidence around and boost growth and jobs in the USA, in Europe and elsewhere”), frase que não deixa de conter um “granum salis” de crítica à obsessão com a “austeridade” que assola a Europa.

De resto, o relatório aponta com fatores mais preocupantes e ameaçadores, nessa ordem, a recessão Europeia e o “despenhadeiro” fiscal norte-americano, embora ressalte que neste último caso se deva evitar um corte exagerado, precipitado ou indiscriminado nas despesas públicas para não comprometer aquela lenta recuperação.

Como se vê, SMJ, não há razão para se privilegiar apenas um ponto negativo em relação ao Brasil. Durma-se com uma mídia dessas!