Na França, Sarkozy quer ganhar segundo turno ‘no gogó’

Cartaz da campanha eleitoral de François Hollande, adversário de Sarkozy nas eleições presidenciais francesas (Foto: Flávio Aguiar/RBA) Em desespero de causa, o presidente francês, Nicolas Sarkozy,  decidiu apostar no estilo […]

Cartaz da campanha eleitoral de François Hollande, adversário de Sarkozy nas eleições presidenciais francesas (Foto: Flávio Aguiar/RBA)

Em desespero de causa, o presidente francês, Nicolas Sarkozy,  decidiu apostar no estilo de sua performance, de irrequieto pop star, contra o estilo mais comedido de seu adversário no segundo turno francês, François Hollande< em 6 de maio.

Propôs a multiplicação dos debates, advogando três em duas semanas. Hollande reagiu dentro de sua ponderação habitual. Disse não ver razões para mudar as regras do jogo agora. No primeiro turno, Sarkozy apostou tudo em chegar em primeiro lugar, mesmo que fosse por juma pequena margem. Não deu certo, e por duas razões principais.

A primeira é que uma parte dos eleitores da esquerda, de Jean-Luc Mélenchon, preferiram votar direto em Hollande, no primeiro turno, exatamente para bloquear o esforço de Sarkozy. A segunda é que uma parte dos eleitores potenciais de Sarkozy preferiram votar em Marine Le Pen, da extrema-direita.

As sucessivas trocas de posição de Sarkozy, querendo colher votos em todos os arraiais, afugentou uma parte da direita tradicional francesa, que preferiu a pregação nacionalista mais difusa de Le Pen, que resistiu inclusive à submissão da França à Alemanha na questão do euro (submissão intragável para uma parte da direita burguesa ou pequeno-burguesa), ao foco limitado anti-imigrante do atual presidente.

É verdade que este tentou mobiliar o velho nacionalismo gaulês ao final da campanha, recusando (tarde demais) o apoio de Angela Merkel, querendo erguer uma nova linha Maginot junto ao Reno. Mas não deu certo: seus excessivos sorrisos e apertos de mãos com a chanceler germânica o condenaram.

Num primeiro momento, Marine Le Pen demonstrou estar investindo mais em disputar a liderança da direita com Sarkozy do que em formar com este uma aliança anti-esquerda. Isso dá uma certa vantagem a Hollande, que já assegurou o apoio de Mélenchon e da candidata dos Verdes (quase 3%).

Potencialmente, uma parte dos eleitores de Le Pen (que venceu em regiões de alto desemprego e regressão econômica) pode até votar em Hollande, para continuar seu protesto contra a crise e sua gestão recessiva. Uma parte considerável dos eleitores de François Bayrou (9%), de centro-direita, prometia o voto em Hollande, pela mesma razão e também por não acreditar mais na agitação constante mas constantemente vazia do presidente franês.

No primeiro turno François Hollande também apostou no gogó, mas de um modo diverso. 70 mil voluntários percorreram 3,5 milhões de lares “puxando” o voto dos indecisos ou dos que pretendiam se abster. Isso pode ter ajudado, além da politização natural dessa eleição, a diminuir a abstenção. Esperava-se 25%, mas o não comparecimento caiu para 19%.

Um feito – e pontos para – o gogó socialista.