Reeleição de Obama recebe apoio inesperado

Barack Obama concorre à reeleição com presidente dos EUA e tem de lidar com os revezes também da crise financeira (©Jason Reed/Reuters/arquivo) A candidatura do presidente dos Estados Unidos, Barack […]

Barack Obama concorre à reeleição com presidente dos EUA e tem de lidar com os revezes também da crise financeira (©Jason Reed/Reuters/arquivo)

A candidatura do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à reeleição, em novembro próximo, recebeu um apoio inesperado. Trata-se do relatório anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a economia norte-americana, divulgado na terça-feira pela presidenta do Fundo, Christine Lagarde.

Nele, o Fundo, aparentemente numa visada artificial, estaria favorecendo a candidatura de oposição, do republicano Mitt Romney. O motivo seria a previsão de crescimento fraco da economia no curto prazo: 2% neste ano, 2,5% no próximo. Isso implica lentidão na recuperação de empregos, bandeira de Obama e crítica consequente de Romney, que acusa a atual política do presidente de inépcia no setor.

Porém, uma leitura mais profunda e abrangente do acontecimento mostra o contrário. Porque a presidenta Lagarde, ao mesmo tempo em que considerava apenas “tépida” (sic) a recuperação da economia e dos empregos nos Estados Unidos, advertiu que dois fatores internos e um externo poderiam agravar a situação:

1) Fator interno: um aumento nos cortes dos investimentos públicos – que é exatamente uma bandeira privilegiada de Romney e dos republicanos de um modo geral.

2) Fator interno: um aumento nos impostos. Os republicanos se opõem a aumento nos impostos – sim, mas para os mais ricos, as grandes corporações e o mundo financeiro. Lagarde está se referindo, implicitamente, a um aumento dos impostos para os contribuintes, a classe média, que tem sido penalizada, na verdade, pela política histórica dos republicanos, que facilita a vida dos mais ricos e das grandes transações financeiras.

3) Fator externo: a recessão europeia, que pode se agravar se a atual política de “austeridade” se mantiver tão rígida quanto está, sem apoio ao crescimento econômico. A crítica aos europeus ecoa a da própria administração Obama, mais a de economistas de variadas procedências. Estes vêm desenvolvendo uma nova teoria, segundo a qual a crise da inadimplência dos Estados na Europa não é causada pelo aumento da dívida pública, mas sim pela recessão imposta pelos cortes nos investimentos públicos, pela consequente compressão da demanda devido à queda do poder aquisitivo e pela também consequente queda na arrecadação. Ou seja, o aumento da dívida pública, na maioria dos casos, não seria causa da crise, mas consequência desta; a política de austeridade não seria remédio para a crise, mas a causa profunda dela e de sua permanência. Sem falar na sonegação de impostos.

Sem querer ou não, Lagarde deu uma empurrada para cima na candidatura de Obama e comprovou o que este blogueiro e colunista já vem defendendo há tempos: hoje o “companheiro FMI” está mais à esquerda do que a visão ortodoxa imperante na Europa.