américa central

Observadores se preocupam com fraude ‘em grande escala’ nas eleições de Honduras

Representantes sindicais narram clima de tensão no país e alertam que desrespeito ao resultado das urnas pode levar a nova frustração da população, com risco de violência

Saul Martinez/EFE

A coalizão liderada pela ex-mulher do presidente Zelaya acusa que votos deixaram de ser computados

O texto abaixo foi enviado a Flávio Aguiar, titular do Velho Mundo.

A Missão Sindical Internacional de Observação Eleitoral em Honduras, convocada pela Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CSA), e integrada pela CUT/Brasil, Força Sindical/Brasil, AFL-CIO/EUA, CNUS/República Dominicana,  Convergência Sindical/Panamá, acompanhada por representantes do PT/Brasil e coordenada pela CUT/Honduras, diante dos resultados preliminares das Eleições Gerais realizadas em Honduras no dia 24 de novembro, declara o que segue:

“Existem graves evidências de uma fraude eleitoral em Honduras. Desde o começo das eleições, a missão sindical de observação pôde acompanhar as imensas filas de eleitores, a mobilização entusiasta das pessoas e a participação sem medo do povo. Isto foi possível graças ao trabalho do partido Libre, dos movimentos sociais de Honduras, entre eles o movimento sindical. Apesar do controle do processo e de suas regras estavam nas mãos das instituições controladas pelos partidos tradicionais e pelo golpismo, eles se submeteram ao processo eleitoral, em condições de total desigualdade e basearam sua estratégia na mobilização do povo para votar e vencer nas urnas os obstáculos e o clima de medo que o governo e seus aparelhos impuseram, acompanhando a votação com informações confiáveis em tempo real.

Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra as testemunhas e os eleitores do Libre. A missão de observação  recebeu informações sobre estes atos e alguns deles foram testemunhados por seus representantes, assim como pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições. Outras informações detalhadas de diferentes fontes da sociedade civil podem ser encontradas aqui.

Logo depois de anunciados os últimos resultados pelo TSE/Honduras, com o cuidado de não falar em tendências definitivas, mas indicando uma preferência pela vitória do candidato da situação, Juan Orlando Hernández, do Partido Nacional, o Partido Libre declarou que não reconhece este ato e assinalou uma série de evidências em seu poder sobre a forma com que o TSE oculta um percentual elevado de urnas e suas atas, que daria a vitória à candidata Xiomara Castro de Zelaya, e que aqueles resultados contradizem pesquisas de boca de urna e informações dadas por seus militantes de todo o país, resultados que dão uma vantagem  a esta de 6% sobre o candidato situacionista. Por outro lado, o candidato Salvador Nasralla, do Partido Anticorrupção (PAC), também manifestou reservas perante o resultado apresentado pelo TSE e não o aceitou.

Deve-se considerar que a embaixadora dos EUA se manifestou logo depois do último boletim do TSE e, de modo muito ponderado, declarou que está apoiando o processo eleitoral para garantir sua transparência e um resultado que garanta a vontade dos eleitores, sem mencionar uma posição clara de apoio ou não ao resultado divulgado. Diante da insistência dos jornalistas, assinalou que era necessário esperar a reação dos partidos sobre a validade dos resultados. Os companheiros da AFL-CIO têm apresentado desde que chegaram preocupação diante das denúncias apresentadas pelo Libre e outras fontes independentes através da missão. Ainda hoje terão um novo encontro na embaixada, com a ideia de insistir na necessidade de ouvir os argumentos dos partidos que questionam o resultado do TSE.

Libre convocou uma coletiva de imprensa para anunciar as medidas que vai tomar, entre elas a impugnação do resultado eleitoral, e que recorrerá a todas as instâncias possíveis para validar o triunfo de sua candidata. Conclamou todos os candidatos e militantes à mobilização e a se manterem em estado de alerta. É bom ressaltar que, apesar dos incidentes e das atitudes hostis, como a militarização dos meios de comunicação independentes, até agora não há nenhum incidente violento que valha a pena destacar. Em geral a situação é tranquila, mas há muita tensão entre as pessoas.

A Missão Sindical ressalta sua preocupação diante das evidências de uma fraude eleitoral de grande escala em Honduras e se manifesta em favor de que se assegure um resultado que respeite a verdadeira posição do povo hondurenho. Adverte que o não reconhecimento da vontade do povo poderia acarretar uma situação de maior tensão e violência à já crítica situação de instabilidade neste país. Expressa sua solidariedade com os movimentos sociais de Honduras, em especial com o movimento sindical, e lança um alerta sobre possíveis perseguições, ameaças e outros atos de violência contra os companheiros e ativistas sociais.”

Tradução: Flávio Aguiar.