Corinthians x Chelsea: deu a lógica. Ao menos uma certa lógica

Jogadores do Corinthians comemoram conquista do Mundial de Clubes da Fifa, em Yokohama. No futebol, a lógica pode ser outra (©REuters)   E lá vou eu me metendo de novo […]

Jogadores do Corinthians comemoram conquista do Mundial de Clubes da Fifa, em Yokohama. No futebol, a lógica pode ser outra (©REuters)

 

E lá vou eu me metendo de novo de pato a ganso (os nomes são adequados neste contexto…), me arvorando em comentarista esportivo.

Acho que o que vou escrever abaixo pode não agradar a alguns corintianos. Mas não é para diminuir o brilho da sua (e de nós, brasileiros) vitória. Ao contrário, é para realçá-lo. E junto com ele, realçar uma tese que defendo: por mais dinheiro que haja (e isso é importante), por mais prestígio que cerque o campo (e muitas vezes isso descamba em arrogância), futebol continua tendo que ser vencido dentro das quatro linhas.

Por isso o futebol encanta tanto: por mais milionário que seja o esporte, dentro do gramado vislumbra-se um princípio de igualdade de oportunidades. Por mais que o craque consagrado peite o juiz e o bandeirinha, o que fará que ele ganhe o jogo é a bola dentro do gol adversário.

É que a vitória ontem (domingo) do Corinthians sobre o Chelsea seguiu um padrão, uma lógica. E este padrão foi o da vitória do Internacional sobre o Barcelona em 2006. Assim como o Barcelona, o Chelsea era o favorito. Assim como o Barcelona, o Chelsea vinha de uma vitória consagradora na semifinal contra o Monterrey do México. O Barcelona ganhara do Club America, por 4 x 0. Poderia ter marcado 8 x 0.

Assim (embora não tanto) como o Barcelona, o Chelsea tem um time miliardário. Assim como o Barcelona, o Chelsea achou que o favoritismo era suficiente para ganhar o jogo.

Porque assim como o Barcelona, o Chelsea se locupletou com a idéia de que os clubes europeus (talvez até as seleções) são sempre melhores do que os sul-americanos. Até porque compram os melhores jogadores sulamericanos. A vitória viria “ao natural”. Parece que somente os brasileiros do Chelsea não pensavam assim. Mas três ou quatro andorinhas – e duas no banco – não fazem um verão.

Já o Corinthians, como o Inter em 2006, passou por uma vitória sufocante na semifinal – aliás, contra o mesmo Al Ahly. Lá foi 2 x 1. Aqui, 1 x 0. Mas já como o Abel Braga em 2006, Tite parece ter estudado o time do Chelsea. O contrário não se deu. Prova: Rafael Benitez, o técnico do Chelsea, escalou um meio de campo zero quilômetro na competição. Entraram “frios” em campo, sem aquele embalo da vitória anterior, contra um time aguerrido, de garra, que faria desta sua maior arma. E Benitez tirou do time o jogador que poderia fazer a diferença: Oscar. Prova: foi num lançamento primoroso dele que Torres marcou o que poderia ser o gol do empate (corretamente anulado por impedimento).

Em 2006, quando o Barcelona apertou, esbarrou na parede chamada Clemer. Em 2012, o Chelsea esbarrou várias vezes na parede chamada Cássio. Entre ambas as paredes, houve até a semelhança da grande defesa de mão trocada, só que a de Clemer foi no segundo tempo, e a de Cássio no primeiro.

Na semelhança, houve uma diferença: o gol da vitória em 2006 nasceu de um contra- ataque, com a defesa do Barcelona desorganizada e recuando. Desta vez o gol da vitória nasceu de um sufoco imposto pelo time corintiano, mas com a defesa do Chelsea desorganizada e recuando: prova está que três (three!, assim com !, escreveu o comentarista do The Guardian) jogadores da defesa estavam na linha do gol quando Guerrero cabeceou. E ele foi inteligente o suficiente para cabecear alto: qualquer jogador ali teria que por a mão na bola, com pênalti e expulsão. A bola ainda raspou o travessão antes de ir beijar o véu da noiva, como se escrevia antigamente. O importante a registrar é que ele cabeceou livre, sem marcação, assim como Gabiru, em 2006, se viu sozinho frente a frente com o goleiro.

Mas assim como em 2006, o gol decisivo aconteceu na metade do segundo tempo, dificultando e enervando a reação do adversário. Sorte? Pode ser. Destino, melhor dizendo, porque em futebol tudo o que acontece vira destino, como em tragédia grega.

Um detalhe curioso: para estudar a equipe do Barcelona em 2006, Abel Braga e seus jogadores escolheram vídeos… das vitórias do Chelsea contra o time catalão!

O Barcelona parece que aprendeu com a lição, veja-se o baile que ele deu no Santos no ano passado. O Chelsea não. Bom, tudo isso prova que o futebol tem uma certa lógica. Mesmo que seja uma lógica que escreve certo por linhas tortas.

E viva o Corinthians!

P. S. – A descoberta de papéis com instruções do técnico Benitez a seus jogadores no lixo do vestiário do Chelsea de certo modo confirma, embora modulando, as afirmações deste blog ().

Instruções houve, mas foram parar no lixo: a metáfora é muito evidente. As instruções eram detalhadas sobre os jogadores corintianos, individualmente falando, também sobre algumas jogadas ensaiadas e as bolas paradas, além de sobre cobranças de escanteio por parte dos jogadores “azuis”. Mas muito pouco sobre o conjunto. Tanto que não havia nada que lembrasse:

1) o ferrolho a que o Cortinthians submeteu o ataque do Chelsea, mesmo durante sua maior pressão;

2) a possibilidade que acabou decidindo o jogo, o sufoco com o ataque em massa promovido pelo Corinthians.

Nessa última possibilidade a defesa do Chelsea entrou em polvorosa. Sem saber o que fazer, fez o pior: correu para dentro do próprio gol.