A Zona do Euro jogando mico

Depois da Irlanda, Portugual e Espanha enfrentam a crise (Foto: Miroslav Sárička/Sxc.hu) A Zona do Euro está jogando mico. No fim de semana passado (20/21/11) foi a vez do ex-Tigre […]

Depois da Irlanda, Portugual e Espanha enfrentam a crise (Foto: Miroslav Sárička/Sxc.hu)

A Zona do Euro está jogando mico.

No fim de semana passado (20/21/11) foi a vez do ex-Tigre Celta, a Irlanda. Depois de seu primeiro ministro Brian Cohen falar grosso durante alguns dias, dizendo que seu país não necessitava de ajuda financeira da U.E., o ex-Tigre pôs-se a miar, implorando alguma – qualquer ajuda. E ela veio, com aqueles purgantes, óleos de rícino, de fígado de bacalhau etc., que é o receituário do FMI para as crises já amargas. Acertou-se um pacote de 90 bilhões de Euros, ainda a ser sacramentado (mas ele será, sem dúvida), ao custo de depredar a já depredada economia (e a soberania) da Irlanda e de saquear trabalhadores, pensionistas, aposentados, investimentos econômicos e sociais, que são quem e os setores que pagam pela farra financeira anterior.

Os bancos irlandeses quebraram e o governo teve de nacionaliza-los, de acordo com a filosofia de privatizar (antes) os lucros e socializar (depois) os prejuízos, para garantir depósitos e acionistas. Empresas – sobretudo as do setor imobiliário – quebraram da noite para o dia, dezenas de milhares de famílias dormiram em suas casas e acordaram no olho da rua, e assim por diante. Num quadro desses, a auto-estima individual e a coletiva se evapora. Mal comparando, é como um terremoto: tudo se passa em pouco tempo, a autoconfiança e a confiança nas instituições escoa pelo ralo.

Agora os olhos – e o mico – se voltam para Portugal e Espanha. Os respectivos primeiros-ministros José Sócrates e José Luiz Rodrigues Zapatero juram de pés e mãos juntas que seus países não necessitam da ajuda da U. E., e que não estão sob pressão para aceitá-la.

Por que isso? Não se trata apenas de orgulho nacional. Trata-se de uma imediata alta de juros para rolar empréstimos logo que se anuncia a iminência da “ajuda”. Assim aconteceu com a Espanha: logo que o Financial Times (versão alemã) anunciou que o país estava sendo pressionado para a aceitar a ajuda através do fundo da U. E./FMI, os juros cobrados para a rolagem da dívida saltaram para perigosos 5,25% ao ano para empréstimos de dez anos, ultrapassando a barreira de 5%, que é considerada a linha vermelha do setor.

Coisa parecida está acontecendo com Portugal, cuja “taxa de retorno” subiu para 7,1%. A da Irlanda, apesar do pacote anunciado, permanece acima dos 9%.

Ou seja, trata-se do jogo do mico anunciado. Como a decisão da U. E. estabeleceu que os credores privados deverão arcar com os prejuízos daqui para frente no caso de inadimplências nacionais, esses credores passam automaticamente a elevar seus preços assim que qualquer nuvem surge no horizonte. E o que não falta nessa conturbada Zona do Euro são nuvens; ao contrário, sobra cada vez menos horizonte.

O caso parece ser da lógica de dar corda para tentar salvar enforcado. Não há saída de momento, como no Inferno de Dante: lasciate ogni speranza, voi ch’entrati.

O melhor era não ter entrado. Mas o fato é que quem dissesse, anos atrás, que essa lógica da rolagem das dívidas inebriantes era uma canoa furada, era visto como uma Cassandra de mau gosto, uma ave de mau agouro no Paraíso da ciranda financeira.

Agora paga o justo pelo pecador, o trabalhador pelo cirandeiro, que, este, ganhou muito dinheiro – o que pode ser uma rima, mas está longe de ser uma solução.

Foto original: Sxc.hu