A velha mídia acusa o golpe
O colunista Marcos Guterman do jornal O Estado de S. Paulo, encontrou um jeito fácil de contestar o livro “Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, e ainda agradar o […]
Publicado 15/12/2011 - 11h00
O colunista Marcos Guterman do jornal O Estado de S. Paulo, encontrou um jeito fácil de contestar o livro “Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, e ainda agradar o PSDB: “É marketing”, afirma. O texto do jornalista, ao tentar desclassificar o livro e explicar o inexplicável, mostra claramente a posição do jornal e também do jornalista., quando acusa a revista CartaCapital, de ter recebido o livro por ser alinhada ao governo. Guterman esquece, porém, que manteve silêncio sobre o editorial publicado pelo jornal em 2010, apoiando publicamente o candidato à presidência da República José Serra (PSDB-SP).
Guterman argumenta que “não recebeu o livro do Amaury”. E mesmo que tivesse recebido, precisaria de pelo menos uma semana de leitura, para incluir verificação de dados e informações para enriquecer sua crítica. Coisa que, convenhamos, contra o PT é completamente desnecessário.
Todos nós sabemos que não é esse o comportamento da “grande” (ou velha) imprensa, que acusa sem provas, baseada apenas em suposições, sem sequer ouvir o outro lado. Ou será que alguém já esqueceu do ministro que caiu quando um ex-presidiário disse ter em seu poder um vídeo, que ninguém nunca viu, mas foi matéria na Veja, no Estadão, Folha de S. Paulo e no “Jornal Nacional”, só para citar alguns.
As perguntas que não querem calar são: o colunista não leu o livro, mas afirma que se trata de marketing? Não leu e não gostou, mas criticou o conteúdo do “Privataria Tucana”?
Quanto ao argumento do colunista, de que velha mídia faz silêncio por não conhecer o conteúdo da publicação, é no mínimo querer subestimar a inteligência dos leitores.
Enquanto denúncias de criminosos condenados pela Justiça são manchete, jornalista ganhador de dois prêmios prêmios Esso e três Vladimir Herzog não merece ser entrevistado pelo jornal O Estadode S. Paulo?
E a Veja, que sempre serviu de fonte confiável para a oposição e a imprensa, não serve no caso contra tucanos? Ora, a revista Veja, em sua edição 1.750, de 09/05/2002, (foto) publicou 10 páginas de “fogo amigo” denunciando propinas e desvios em privatizações de estatais durante o governo FHC. Estão lá os mesmos nomes que constam no livro de Amaury: Ricardo Sérgio e José Serra.
A Veja desta semana não teve como desmentir a própria publicação e tratou de colocar uma reportagem de capa acusando – sem provas – petistas de falsificação de documentos, no caso conhecido como “Lista de Furnas”, numa tentativa de incriminar adversários. Além de sair em defesa de José Serra, dá sinais de que acusou o golpe e deixa evidente que trata-se de uma reação ao “Privataria Tucana”.
Privataria é lixo
O Estadão abriu espaço para o principal envolvido nas acusações de Ribeiro Jr, o tucano José Serra, se defender: “É lixo, lixo”, criticou… É muito pouco para explicar o tamanho da corrupção apontado nas mais de 300 páginas do livro.
Para a imprensa que tem se mostrado tão combativa contra a corrupção, que tem se declarado a favor da faxina, não ter tido o trabalho de entrevistar Amaury Ribeiro, e ainda calar-se diante de graves acusações, soa no mínimo incoerente ou conivente, com os “malfeitos” do partido de oposição e seus políticos.
Sugiro ao colunista Guterman, enquanto espera ser presenteado com um exemplar de “Privataria tucana”, que leia a obra de Aloysio Biondi publicado no ano 2000, O Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado, em que um minucioso trabalho de apuração demonstra quanto o governo tucano gastou e quanto obteve com a venda das estatais.
O cálculo cuidadoso mostra que o discurso da equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso escondia o fato de que R$ 87,6 bilhões não entraram ou saíram dos cofres públicos nesse processo. Isso precisava ser descontado do saldo. “O balanço geral mostra que o Brasil ‘torrou’ suas estatais, e não houve redução alguma na dívida interna, até o final do ano passado (1998)”, escreveu o jornalista. O livro foi um campeão de tiragem: mais de 130 mil cópias.