Marina errou ao apostar em grife partidária em vez de mobilização por reformas

Fábio R. Pozzebom / ABr Marina Silva mostrou que não soube aproveitar o cacife político que seus votos lhe proporcionaram em 2010 O partido Rede Sustentabilidade não conseguiu cumprir as […]

Fábio R. Pozzebom / ABr

Marina Silva mostrou que não soube aproveitar o cacife político que seus votos lhe proporcionaram em 2010

O partido Rede Sustentabilidade não conseguiu cumprir as exigências para obter seu registro a tempo de disputar as eleições de 2014. Marina cometeu uma série de erros neste processo. O mais grave de todos foi vender a ideia “sonhástica”, um termo usado por ela, de que a simples criação de um novo partido seria o caminho para a redenção das mazelas políticas. Não é.

Sem reforma política, novos partidos não conseguirão fazer mudanças profundas. As formas de se eleger, com forte influência privada do poder econômico, é o maior de todos os entraves. Campanhas caríssimas para o parlamento levam os eleitos, mesmo os mais honestos, a incharem seus gabinetes como instrumento de sobrevivência para a reeleição. Bancadas eleitas via poder econômico e marketing, sem raízes populares, impõem severos entraves à governabilidade.

A própria portabilidade de fundo partidário e tempo de TV de deputados eleitos por uma legenda e que migram para um novo partido, provoca uma farra de aliciamento e fisiologismo. Com Rede Sustentabilidade ou sem ela, Marina tem e teria de conviver com tudo isso, sem que haja uma reforma política profunda.

Do alto de seus 20 milhões de votos conquistados em 2010, e sem estar presa à responsabilidade de exercer um papel de governo, Marina poderia ter ficado em algum partido já existente, como talvez venha a se filiará agora, e ter se dedicado à necessária mobilização pela reforma política.

A partir da conquista de novas regras eleitorais, faria mais sentido uma reorganização partidária para reacomodar as forças políticas à uma nova ordem. Ao optar por um novo partido como se fosse uma grife de marca, diferente na superficialidade, mas igual nas estruturas – pela ausência de uma reforma política –, Marina optou pelo atalho do marketing fácil, em detrimento do duro embate político de tomar lado por temas polêmicos que dividem opiniões e que poderia afastar apoiadores como o Banco Itaú e a Natura.

Mas mesmo na escolha pelo atalho mais fácil para tentar chegar à presidência da República, Marina continuou cometendo erros. Ela saiu do Partido Verde em meados de 2011. Poderia ter iniciado o processo de criação do partido desde aquela época. Passou mais de um ano e meio parada e deixou para criar seu partido na última hora.

Só deflagrou o processo em fevereiro deste ano, sabendo que só tinha até 5 de outubro cumprir todas as exigências que a lei exige, incluídas aí a coleta de assinaturas expressando apoio à criação da nova legenda. Um prazo muito pequeno. Como agravante ao improviso do tempo, saiu colhendo assinaturas à esmo, até no meio de manifestações de rua, quando poucos estão com seus títulos de eleitores à mão.

Deve ter havido muita gente que assinou com rubrica diferente da assinatura original e sem saber informar corretamente sua zona eleitoral. Cartórios eleitorais não podem validar assinaturas que não batem com aquela que o eleitor registrou quando tirou seu título, senão estariam cometendo fraude. Caberia ao próprio partido de Marina reapresentar novas assinaturas consistentes, coisa que deverá fazer nos próximos meses para concluir a criação do partido.

Outro erro foi pressionar o Tribunal Superior Eleitoral a agir fora da lei, a dar um jeitinho, repetindo péssimo hábito de querer dar “carteiradas”. Afinal, lutamos todos para que a lei seja igual para todos, e é um péssimo exemplo alguém que queira presidir a República pedir privilégios para descumprir a lei.

As escolhas erradas de Marina Silva têm mostrado que ela não soube ocupar o espaço de liderança política que se abriu para ela com a surpreendente votação que teve em 2010. Apequenou-se e complicou-se por conta própria diante de suas oportunidades e de seu capital político. Caso confirme sua candidatura por outro partido, a expectativa de que possa surpreender em 2014 ficou menor.