Relatório alerta para lentidão de obras na região serrana do Rio

Das mais de 170 áreas indicadas como de alto risco de deslizamento de encostas na região serrana do Rio de Janeiro, apenas oito tiveram suas obras iniciadas. O alerta foi […]

Das mais de 170 áreas indicadas como de alto risco de deslizamento de encostas na região serrana do Rio de Janeiro, apenas oito tiveram suas obras iniciadas. O alerta foi dado pelo Terceiro Relatório de Inspeção à região, divulgado nesta quarta-feira (11) pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do estado (CREA-RJ).

O relatório é resultado de visitas realizadas pelos técnicos da entidade às cidades de Nova Friburgo, Bom Jardim, Teresópolis e Petrópolis, e visa acompanhar a situação nas regiões mais abaladas pelas chuvas e sugerir soluções técnicas ao poder público. O CREA-RJ visita a região desde janeiro de 2011, quando fortes chuvas levaram à morte de mais de 900 pessoas na região, segundo a Defesa Civil fluminense.

Segundo o relatório, as ações executadas pelo Poder Público desde a tragédia se limitaram em grande parte ao atendimento às vítimas e desabrigados para que as áreas afetadas voltassem à sua normalidade. “Muito pouco foi feito com relação à recuperação de fato das áreas afetadas, que continuaram muito vulneráveis”, afirma o documento.

Os técnicos afirmam que grande parte dessas poucas obras deveria estar concluída até outubro de 2011, início do período chuvoso, o que não ocorreu. Agora, “as precipitações na região estão carregando a terra revolta decorrente dessas obras”, aumentando o assoreamento do leito dos rios, formando bancos de sedimentos, e a possibilidade de novas enchentes.

Além disso, os deslizamentos ocorridos em 2011 levaram parte considerável da vegetação dos locais atingidos, aumentando o risco de novos desabamentos com as chuvas deste ano. Algumas das medidas propostas no documento são:

– Elaboração de um Mapa de Riscos de Manchas de Inundação e Deslizamentos de Encostas;

– Planejamento para a remoção da população destes locais de alto risco e sua transferência para habitações adequadas e com infraestrutura urbana e sanitária;

– Imediato reflorastemento das áreas com vegetação nativa;

– Intervenções nas encostas afetadas pela tragédia de 2011 para evitar erosão pela chuva (e agravamento dos riscos de novos deslizamentos), o entupimento dos sistemas de drenagem das águas pluviais e a poluição e assoreamento do rio;

– Implantar pequenas e médias barragens de cheias, a serem localizadas nos trechos médio e superior dos rios, visando controlar as ondas de enchente que descem pela calha fluvial nos períodos de chuvas intensas.

“As poucas intervenções que os poderes públicos começaram sequer foram concluídas. No primeiro relatório que o CREA-RJ elaborou, já havia propostas de obras emergenciais e que não exigiriam nenhuma fortuna para amenizar os problemas, como a cobertura vegetal das áreas afetadas por deslizamentos. Recomendamos também que as obras fossem iniciadas em março ou abril, o princípio do período das secas”, declarou o presidente da entidade, Agostinho Guerreiro, em entrevista coletiva concedida na manhã de hoje. “Infelizmente, na estiagem, voltamos às cidades afetadas e verificamos que as obras não estavam sendo implementadas. Estava claro que em grande quantidade de chuvas, a tragédia seria inevitável”, completou.

Partindo das informações levantadas pelo CREA-RJ, o risco de novos deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro continua em 2012. As chuvas ocorrem todos os anos – ainda que não na mesma intensidade do fatídico janeiro de 2011 –, na mesma época do ano, e mesmo assim o Poder Público parece não conseguir desenvolver medidas para prevenir desastres e proteger a população. É necessário tomar as rédeas da situação, com planejamento adequado e foco nas pessoas. No longo prazo, uma melhor política de ocupação do solo, que inclua moradia adequada e infraestrutura para as famílias é um passo fundamental.