Para pesquisador, cotas devem durar 25 anos

Helio Santos defende a necessidade de ações afirmativas e seu debate no Fórum como forma de outros movimentos no Brasil se apropriarem da bandeira

Direto de Salvador – Políticas específicas de promoção da igualdade racial no Brasil são um remédio amargo mas necessário na visão do professor Helio Santos. O presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade (IBD) foi um dos precursores do debate de cotas para negros no ensino superior. Ele acredita que o debate a respeito de ações afirmativas mantém-se necessário mesmo em espaços como o Fórum Social Mundial porque não existe plena compreensão a respeito.

 

 

 

“É mais que necessário para a democracia e para a cidadania no Brasil”, avalia Helio Santos. As políticas de promoção de igualdade são importantes para a “redução das vastas cotas de 100% para branco em várias instâncias”, na definição do professor. “É um remédio amargo, mas as políticas específicas não são eternas. No Brasil, devem durar no máximo 25 anos, quando se tiver reduzido essas distâncias – que aqui não são sociais, são raciais – quando isso acontecer, podemos esgotar essas políticas e pensar em outras, generalistas.”

Entrevista

Helio Santos

presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade (IBD)

O fato de haver um Fórum temático em Salvador (BA) promove, em sua análise, um importante efeito de fazer outros movimentos sociais perceberem a necessidade do debate. Cerca de 80% da população da cidade é afrodescendente. Essa tendência deve ser ampliada com a ida do evento, em 2011, para a África.

Confira a entrevista.

RBA – De que forma o fato de haver um Fórum em Salvador onde a população é majoritariamente negra pode favorecer que essa temática alcance outros movimentos sociais?

Helio Santos – A temática racial está na agenda há algum tempo, agora, ao ser inserida no Fórum Social Mundial, ganha um status importante. A relevância da temática etno-racial é algo inegável, mas é fundamental que outros atores se apercebam disso. A democratização se efetiva no Brasil e passa pela questão racial. A história do país mostra que não se consolida a democracia sem pensar em três populações, a indígena, negra e a imigrante que veio depois. O que eu chamo de ecologia social é não hierarquizar esses grupos é justamente o que buscamos.

RBA – O fato de o Fórum ir a Dacar, em Senegal, no continente africano, favorece o debate?

Na verdade a questão racial não fica circunscrita aos países, porque há uma conexão da África com todos os negros da diáspora negra. Toda a América Ibérica tem uma população negra importante, Colômbia, Venezuela, Brasil, Cuba. E os Estados Unidos também. O Fórum em Dacar é importante porque a realidade de África tem a ver com os três séculos de rapinagem de seu principal ativo, o ser humano raptado de lá.

RBA – Por que a defesa das cotas e de políticas de promoção da igualdade é necessário mesmo em espaços como o Fórum onde há um público sensibilizado à questão?

É necessário porque não há uma compreensão, por parte de todos, a respeito das cotas. quando coordenei um grupo que colocou o tema na agenda do Brasil nos anos 90, eu dizia que era contra as cotas para negros, mas a favor da redução das vastas cotas de 100% para branco em várias instâncias, conselhos, direções. Cotas radicais para brancos existem em vários contextos da sociedade brasileira. Então eu respondia, com um pouco de ironia, para dizer que temos de inovar e ousar nessa área. É um remédio amargo, mas as políticas específicas não são eternas. No Brasil, devem durar no máximo 25 anos, quando se tiver reduzido essas distâncias – que aqui não são sociais, são raciais – quando isso acontecer, podemos esgotar essas políticas e pensar em outras, generalistas. É mais que necessário para a democracia e para a cidadania no Brasil.