Debates marcam diferentes visões sobre futuro do Fórum

Movimentos sociais e sindicais voltam a indicar que querem mais ação e intelectuais apostam em FSM como espaço de reflexão

Uma velha dissidência entre as entidades que compõem a base do Fórum Social Mundial foi exposta no primeiro dia de debates em Porto Alegre. O seminário que celebra dez anos do processo tem como finalidade não apenas debater as mudanças pelas quais passou o mundo como as adequações a serem feitas pelo próprio FSM em busca de melhorias.

A discordância, em 2010, gira em torno do antigo ponto sobre ação ou discussão. Movimentos sociais e sindicais querem que a reflexão conduza a ações ao longo do ano e que os movimentos integrantes do Fórum estejam unidos nas diferentes agendas. Intelectuais e formadores do processo, por outro lado, entendem que o melhor é que os debates continuem fornecendo subsídios para que cada movimento pense em sua ação.

A seguir, um resumo das principais falas dos primeiros debates deste ano.

Corinne Kummar, representante do Fórum Social africano:

“O Fórum Social Mundial remotou conhecimentos esquecidos para formular uma nova lógica.”

Chico Whitaker, um dos organizadores e fundadores do FSM:

“Há muitos lugares nos quais o Fórum Social Mundial ainda não chegou. Por conta disso, os movimentos nesses lugares ainda estão divididos, fragmentados. O desafio é de termos de começar a pensar em como gerir a abertura dessas novas praças no mundo.”

Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo e um dos fundadores:
“A discussão sobre o papel do Fórum é interessante porque é uma discussão sobre nossa cultura patriarcal e hierárquica. O Fórum não manda ninguém fazer nada, não é patrão de ninguém. A tarefa que temos daqui em diante é mudar essa cultura.”

João Pedro Stédile, do MST:
“Não conseguimos acumular um programa mais propositivo. Também falhamos em construir dentro do Fórum ações em massa. E falhamos porque não tivemos capacidade de aglutinar forças para propostas programáticas anti-imperialistas.”

João Felício, CUT
“Acertamos muito mais do que erramos. Quem precisa fechar para balanço é o Fórum Econômico de Davos.”
“A reflexão é fundamental, mas está na hora de marcar gol. Precisa passar à ação. A CUT pensa que temos sérios riscos de retrocesso na América Latina. (…) Se não passarmos à ação, vamos continuar vivenciando retrocessos.”

Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul:
“O Fórum Social Mundial é indispensável para questionar como podemos nos assumir como sujeitos de um processo de mudança radicalmente democrático. (…) A gente pensa lá longe e não age no aqui e agora.”

Lilian Celiberti, ativista uruguaia
“O Fórum Social Mundial está no território intermediário entre o que já não é o e o que ainda virá a ser. O velho e o novo se disputam permanentemente”
“A luta anti-imperialista não basta. Precisamos da antirracista, da antipatriarcal. A hierarquização das lutas é um dos temas que se colocam em disputa no Fórum. Não é verdade que as contradições estão com um inimigo externo. Estão em nossas próprias pautas capitalistas interiorizadas.”