Estratégico

Rio Tietê comemora melhora da qualidade das suas águas

Especialistas alertam, no entanto, para necessidade de cobrar caro de quem polui as águas dos rios brasileiros e de investir em educação ambiental

Rovena Rosa/EBC
Rovena Rosa/EBC
Rio tem de ser visto como estratégico, com possibilidade de ser captado, tratado e servir para manutenção da vida humana

São Paulo – Pouca gente sabe, mas 22 de setembro é o Dia do Rio Tietê. E, por incrível que possa parecer para quem vê o rio na cidade de São Paulo, há o que comemorar. A qualidade das águas do maior rio paulista – são 1.100 quilômetros que cortam o estado de leste a oeste – tem melhorado nos últimos anos. Estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica aponta que o índice de água de boa qualidade, no rio Tietê, passou de 7,2% em 2020 para 11,3% este ano. No caso da água ruim, esse índice foi reduzido de 25,3% no ano passado para 13,2% na análise atual.

Infelizmente, no entanto, o índice de água considerada péssima aumentou de 1,2% para 7,5%. Divulgado nesta quarta-feira, o levantamento tem como base dados coletados entre setembro de 2020 e agosto deste ano. Os números mostram, ainda, que a água regular passou de 66,3% para 67,9% no mesmo período.

Qualidade da água do Tietê melhora com menos veículos e lixo nas ruas

Biólogo e educador da SOS Mata Atlântica, César Pegoraro explica que essa tendência de melhora da água do rio Tietê resulta do investimentos em ações de saneamento básico feitos desde meados da década de 1990. “Quando pressionamos pela despoluição do rio houve o começo do chamado Projeto Tietê, que desde 1992, quando foi lançado, tem sucessivas ações de ampliação da rede de coleta e da construção de estações de tratamento de esgoto. Também tivemos várias ações de melhoria na coleta de resíduos, campanhas de coleta seletiva, cooperativas atuando. É uma somatória de esforços em prol da qualidade ambiental”, disse, em entrevista a Júlia Pereira, da Rádio Brasil Atual (confira abaixo). 

Água contaminada

Tanto esforço pode literalmente ir por “água abaixo” diante de uma má ação. É o que comenta o coordenador do projeto Observando os Rios, Gustavo Veronesi, também da Fundação SOS Mata Atlântica. O descarregamento de sedimentos da Barragem de Pirapora, ocorrido em agosto, despejou um alto fluxo de água contaminada no Tietê. E essa é uma das razões para que o índice de água considerada péssima tenha subido de  1,2% para 7,5% de acordo com o estudo. A contaminação se estendeu por 300 quilômetros do rio. Isso tornou a água péssima mesmo em pontos que estavam apresentando melhora.

Para Veronesi, isso comprova o nível de fragilidade das águas. “Demora um tempo muito grande para se ter um resultado efetivo de melhora e um simples ato pode piorar tudo de uma hora para outra. E é difícil quantificar o tempo para cura. Talvez seis meses, um ano. Vai depender das chuvas e também de não se repetir um ato que foi terrível.” 

Rio estratégico

O estudo da SOS Mata Atlântica reforça que, para manter a melhora na qualidade da água do rio Tietê, são necessárias mudanças. A educação ambiental e a fiscalização da legislação vigente são fundamentais para isso. “A gente precisa fazer valer o que está na legislação de crimes ambientais, política de meio ambiente, a lei de água paulista e nacional que é cobrar pela água. Cobrar de quem usa e principalmente de quem polui a água. Tem de fazer valer a legislação e tornar muito caro, mas muito caro poluir porque aí vai ficar mais barato evitar a poluição”, ressalta Veronesi.

Para o biólogo César Pegoraro é preciso investir “pesadamente” na educação ambiental da população. “E no médio e longo prazos olhar para a perspectiva de que estamos vivendo as mudanças climáticas de fato. E essas mudanças estão trazendo incertezas para o abastecimento público, incerteza para as chuvas. Portanto, a gente vai ter de mudar essa visão de que rio poluído faz parte da paisagem urbana. E cada vez mais olhar para o rio como algo estratégico perto da gente. Que tenha possibilidade de ser captado, tratado e servir para manutenção da vida humana.”