Minas Gerais e Bahia lideram desmatamento de Mata Atlântica

Sinais negativos causados pela aprovação do Código Florestal já são sentidos no bioma, diz diretor da SOS Mata Atlântica

Região do bioma Mata Atlântica, que perdeu mais de 13 mil hectares no último ano (Foto: SOS Mata Atlântica/Inpe)

São Paulo – Bioma mais ameaçado do Brasil, a Mata Atlântica perdeu 13.312 hectares no período de 2010 a 2011. Os dados, apresentados hoje (29) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela ONG SOS Mata Atlântica, mostram que os estados da Bahia e de Minas Gerais foram os que apresentaram maiores índices na perda de florestas. Em Minas Gerais, foram desflorestados 6.339 hectares, enquanto a Bahia desflorestou 4.686 hectares.

Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica, faz um alerta aos dados, considerando que, por causa da cobertura de nuvens, o que prejudica a captação de imagens, foram avaliados parcialmente os estados da Bahia, de Minas Gerais e, também, do Espírito Santo: caso a área total desses estados tivesse sido estudada, os índices de desmatamento poderiam ser ainda maiores.

Em Minas Gerais, o crime continua ocorrendo na região chamada de “triângulo do desmatamento”, onde já foram identificados vários desflorestamentos em períodos anteriores. Nesta região, as florestas nativas estão sendo transformadas em carvão e substituídas por eucalipto. “Nós conseguimos identificar desmatamentos recentes, isso significa que ele está ocorrendo hoje. No próximo ano, com certeza, veremos que essas áreas estarão sendo desmatadas e transformadas em carvão”, pontuou Hirota.

Na sequência dos maiores desmatadores vêm Mato Grosso do Sul (588 hectares), Santa Catarina (568), Espírito Santo (364), São Paulo (216), Rio Grande do Sul (111), Rio de Janeiro (92), Paraná (71) e Goiás (33). O estudo analisou dez dos 17 estados que possuem o bioma, que representam 93% da área total de Mata Atlântica.

O ritmo de desmatamento caiu 57% se comparado com o período 2008 – 2010, quando o bioma perdeu ao todo 31.195 hectares. Nos últimos 25 anos, a Mata Atlântica perdeu 17.354 km², ficando reduzida a 7,9% de sua área original, se considerados os remanescentes florestais em fragmentos acima de 100 hectares, representativos para a conservação de biodiversidade.

Márcia Hirota ameniza a comemoração da queda nos índices. “Eu diria que o ritmo de desmatamento se manteve nos últimos anos, o que é preocupante, principalmente na Bahia e em Minas Gerais, porque realmente deveria ter caído mais, como em outros estados”, ressaltou.

Os expositores dos dados consideraram uma surpresa os números relativos aos estados da região Sul, principalmente Paraná e Santa Catarina, que apresentaram queda acentuada nas suas taxas de desmatamento, com áreas desmatadas de 568 e 71 hectares respectivamente – se comparados às áreas desses estados cobertas com vegetação de Mata Atlântica.

Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, destaca a importância de estados e municípios conhecerem e se comprometerem com a Mata Atlântica de sua região. “Neste momento de crise, com o desmonte da legislação brasileira e a alteração do Código Florestal, é importante que esse tipo de informação qualificada seja detalhada para dar suporte a políticas públicas. Este é um ano de eleições e é fundamental que os candidatos saibam qual é a base da Mata Atlântica”, considerou.

Código Florestal e as implicações no bioma

Ainda a respeito da aprovação de um novo Código Florestal para o Brasil, inclusive com as mudanças feitas pela presidenta Dilma Rousseff, Mário Mantovani afirmou que sinais de flexibilização da proteção ambiental e do enfraquecimento do reflorestamento já estão sendo sentidos. “Nós temos mais de 25 milhões de árvores que fizemos nos diversos programas da SOS Mata Atlântica. E percebemos cada vez mais que os proprietários rurais não pedem mais mudas. Áreas de restauração ambiental não nos chamam mais para que sejam feitas novas resutarações. Além também de o fato de as reservas legais não serem mais averbadas em cartório. São esses alguns dos sinais”, lamentou.