MG concentra 60% do desmatamento de Mata Atlântica desde 2008, aponta Atlas

ONG publica estudo sobre nove estados. Cinco municípios que mais perderam mata nativa também são mineiros

Desmatamento em MG é atribuído à agropecuária e à exploração do carvão vegetal para siderurgia (Foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica

São Paulo – Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina são os três estados onde ocorreu mais desflorestamento de Mata Atlântica de 2008 a 2010. O estado do Sudeste teve 12,5 mil hectares desmatados, o que representa 60% da área total devastada, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. No período, foi perdida uma área de 20 mil hectares – equivalente a 20 mil estádios de futebol.

O levantamento produzido pela ONG SOS Mata Atlântica com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) avaliou as perdas em nove dos 17 estados onde ocorre esse bioma. Os estados do Sul e Sudeste mais Goiás e Mato Grosso do Sul foram analisados. A área abrangida extende-se do Rio Grande do Sul ao Ceará.

“Os dados avaliados mostram que o desmatamento na floresta nativa continua, e é preciso que as políticas públicas que incentivam a conservação e a fiscalização atuem de maneira mais efetiva para garantir a manutenção da floresta e, por consequência, dos serviços ambientais para milhões de pessoas que dependem de seus recursos naturais”, sustenta Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora da SOS Mata Atlântica.

Em entrevista coletiva on line promovida nesta quarta-feira (26) pela ONG, Márcia defende a necessidade de conscientizar a população sobre a necessidade de preservação mesmo para a vida nas cidades. “É uma questão de sobrevivência dos 112 milhões de habitantes do bioma”, explica. “A relação da floresta com a nossa vida nas cidades é direta, precisamos saber de onde vem e a qualidade da água que consumimos, o tamanho do lixo que produzimos e do nosso consumo de energia; toda nossa atividade causa impacto direto sobre o ambiente”, destaca.

O Atlas toma como base uma área de 94,9 milhões de hectares, 72% do total considerado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como abrangido por esse bioma. Nuvens sobre as outras áreas dificultaram a análise de imagens colhidas via satélite. Os dados dos estados nordestinos devem ser incorporados até o fim do ano.

Depois de Minas Gerais no ranking, o Paraná desmatou 2,7 mil hectares, contra 2,1 mil de Santa Catarina. Proporcionalmente, os catarineses tiveram maior devastação, já que 1,2% da área total foi destruída, porém alcançaram uma grande redução – de 8 mil para os atuais 1,2 mil hectares. O Espírito Santo teve a menor área desmatada em hectares e percentualmente (160 ha, 0,03% do total).

A média anual do desflorestamento mineiro cresceu 15% na comparação com o último levantamento. Antes, a média era de 10 mil hectares derrubados por ano. Se originalmente o estado tinha 46% de seu território ocupado pelo bioma, atualmente apenas 9,6% tem cobertura nativa. “Minas Gerais teve 80% (em função da nebulosidade) de sua área avaliada, o que pode levar o número de desmatamento a ser ainda maior”, explica Flávio Ponzoni.

A maior alta, porém, foi registrada no Rio Grande do Sul. O aumento registrado foi de 83% na média anual. “No caso de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, é preciso que os governos federal e estaduais atuem firmemente, acompanhados sempre de perto pela sociedade, para diminuir e até zerar estes números”, defende Márcia. Entre as ações propostas estão formas de turismo sustentável e educação ambiental.

O estudo atribui parte das perdas em Minas Gerais a municípios localizados em áreas de fronteira com o Cerrado e a Caatinga. “Os desmatamentos nesses municípios e outros dessa região de Matas Secas está ligado à expansão da agropecuária e do carvão vegetal para siderurgia”, constata Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da ONG. “É necessário que o uso do carvão vegetal seja regulamentado com florestas plantadas dentro dos critérios da certificação de produtos florestais”, afirma.

Os dados podem ser confiridos na página da organização.